Filha do ambientalista destaca a criação de um memorial em homenagem ao pai e ao avô
Desocupado desde 2002, o casarão da família Lutzenberger, na rua Jacinto Gomes, no bairro Santana, será a sede da empresa Vida. A ocupação do local pelo empreendimento altera os rumos traçados em 2009 pelos familiares, que cogitavam alugar o imóvel e o jardim lateral. Os dois espaços interessavam a um restaurante localizado na avenida Venâncio Aires, que planejava transformá-lo em estacionamento.
No entanto, neste ano surgiu a necessidade de a Vida, empresa criada pelo ambientalista José Antônio Lutzenberger, mudar de endereço. O prédio que a instituição utiliza no município de Guaíba pertence à indústria Celulose Riograndense, que solicitou a devolução do imóvel. De acordo com Lilly Charlotte Lutzenberger, filha do ambientalista, a ideia inicial, quando a empresa de celulose solicitou a devolução da área, era construir um prédio em Eldorado do Sul. No município funciona a central de reciclagem de resíduos industriais criada há 22 anos por Lutz.
No entanto, os planos mudaram e as herdeiras Lilly e Lara resolveram utilizar a casa de Porto Alegre como sede da Vida. A empresa, que pertence à família, propôs restaurar o casarão e transformá-lo em escritório do empreendimento. A previsão é de que a inauguração ocorra em 2011. "Vamos restaurar o prédio e deixá-lo bacana sem alterar as características originais", destaca.
Para Lilly, a reforma da casa de três pavimentos significa também uma preservação da memória do avô, arquiteto e aquarelista José Lutzenberger, e também do pai. Em abril deste ano, o escritório da Fundação Gaia deixou o local que ocupava nos fundos da casa na Jacinto Gomes para atuar no Rincão Gaia, em Pantano Grande.
Segundo ela, abrigar a empresa Vida é o melhor destino que poderia ser dado ao imóvel da sua família. "O caráter funcional que passa a ter este imóvel, ocupado pela sede da empresa, permite uma preservação mais sustentável a longo prazo", acrescenta.
A filha de Lutz salienta que na Europa é comum empreendimentos instalarem-se em prédios antigos. "A casa, além de ser sede da empresa, terá o memorial Lutzenberger, com informações sobre o meu avô, que a construiu, e do meu pai, que viveu no local e desenvolveu toda a sua atuação como ambientalista", acrescenta.
O arquiteto Flávio Kiefer, responsável pela transformação do Hotel Majestic na Casa de Cultura Mario Quintana, coordenará os trabalhos de recuperação do imóvel. Já o arquiteto José Lutzenberger é responsável por prédios como a igreja São José, o Palácio do Comércio e o Pão dos Pobres.
A história da família permanece intacta tanto nas paredes quanto nos detalhes simples da vida doméstica. No topo da escada que une os três pavimentos está um vitral com o brasão familiar, onde uma adaptação inclui a bandeira do Brasil. Na cozinha, ainda existem os potes de mantimentos de porcelana, identificados no idioma alemão. Retratando cenas do cotidiano, as aquarelas pintadas por José Lutzenberger acompanhavam os degraus da escada. No local, funcionava o escritório do arquiteto e, além da garagem, existia um pequeno laboratório fotográfico.
(Por Cláudio Isaías, JC-RS, 20/12/2010)