A Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas defende que projetos de conservação do solo sejam inseridos nos mercados de carbono para incentivar medidas que impeçam o avanço dessa ameaça
Para Luc Gnacadja, secretário executivo da Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas (UNCCD), não há muitas dúvidas: “A desertificação e a degradação do solo são o maior desafio ambiental do nosso tempo”. A UNCCD lançou nesta semana a década de luta contra a desertificação.
“A superfície de 20cm de solo é tudo que está entre nós e a extinção. A degradação das terras aráveis já está causando conflitos e aumentando o preço dos alimentos”, explicou Gnacadja.
A situação piora quando é levado em conta que quem mais sofre com isso são as populações mais miseráveis dos países mais pobres. Segundo a UNCCD, desde 1980 um quarto do solo do planeta foi degradado de alguma forma e a cada ano 1% dele é perdido.
As principais consequências dessa perda são a extinção de espécies e a diminuição do solo para o uso agrícola. Os motivos que aceleram a desertificação são variados, como a má utilização do solo e as mudanças climáticas.
Gnacadja afirma que para combater a degradação são necessárias melhores tecnologias e equipamentos para lidar com a terra, assim como a adoção de novos modelos de agricultura. “Tudo isso custa muito dinheiro e é importante acharmos meios de financiar essas transformações”, afirmou.
Uma dessas maneiras seria justamente conceder créditos de carbono para projetos que evitem a desertificação. O que seria muito justo segundo a UNCCD, uma vez que existe uma quantidade gigantesca de gases do efeito estufa armazenados no subsolo e a degradação acaba liberando-os para a atmosfera.
A UNCCD reconheceu os avanços obtidos na Conferência do Clima (COP16) em Cancún na questão da conservação florestal através do REDD + e acredita que esse tipo de iniciativa pode ser ampliada para abranger também a degradação do solo.
“É uma proposta vantajosa para todos. Os países combateriam às mudanças climáticas e ainda financiariam projetos que ajudam de diversas maneiras, como na questão da segurança alimentar e do fornecimento de água”, disse Gnacadja.
Três metodologias sobre o carbono no solo já estão esperando a validação sob o Voluntary Carbon Standard (VCS). O Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) relata que o seqüestro de carbono do solo tem o potencial de mitigação de gases do efeito estufa de cerca de seis bilhões de toneladas ao ano, grande parte através do manejo de cultivos e pastagens em países em desenvolvimento.
Brasil
A UNCCD prevê que boa parte do Nordeste e dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo podem virar semidesertos até 2025. No caso do Rio Grande do Norte, nada menos que 97% do território estão suscetíveis à desertificação, segundo um levantamento da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).
Para tentar minimizar esse quadro, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) prometeram colocar em operação em 2011 o Sistema de Alerta Precoce de Secas e Desertificação (SAP).
O sistema, além de combater precocemente os sinais da seca, deverá também agir no enfrentamento de fenômenos climáticos extremos, como enchentes. A idéia do MMA é criar um instrumento que possa avançar na produção de conhecimento sobre os diversos aspectos da desertificação e que fortaleça as políticas contra o fenômeno.
Outra iniciativa do governo foi lançar o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que pretende estimular o produtor rural a investir em tecnologias sustentáveis na propriedade. Serão R$ 2 bilhões em recursos para a adoção de quatro principais práticas agrícolas conservacionistas: plantio direto na palha, integração lavoura-pecuária-floresta, recuperação de pastagens degradadas e fixação biológica de nitrogênio.
As áreas do Brasil suscetíveis à desertificação ocupam um total de 980.711,58 km2, o que representa 11,5 % do território nacional.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil/Agências Internacionais, 17/12/2010)