Nove meses depois do início da catástrofe da maré negra, no golfo do México, a companhia de petróleo BP (British Petroleum) enfrenta uma ação do governo americano que poderá custar muito caro à empresa, mas a gigante britânica parece ter reunido recursos suficientes para se recuperar.
O governo Obama apresentou na quarta-feira, pela primeira vez, uma ação de responsabilidade civil contra a companhia de petróleo e para que seja reembolsado em bilhões de dólares, além dos 20 bilhões já concedidos através de um fundo especial de indenização.
A ação da BP na Bolsa de Londres, logicamente, sentiu o golpe, perdendo até 3% durante a manhã, antes de se recuperar um pouco e de limitar as perdas a 1,50%, a 469,40 pences, na metade da sessão. "Os mercados estão longe de ver isso como um drama", assegurou à AFP David Jones, da consultoria IG Index.
Apesar disso, esta é má notícia para a companhia britânica que ainda não virou totalmente a página de um episódio desastroso para a sua imagem, assim como para sua cotação em Bolsa, e do qual se acreditava que ela não conseguiria se recuperar.
"A BP recebe um novo golpe no momento em que a companhia pode esperar mais dificuldades para se recuperar das consequências da maré negra", disse nesta quinta-feira Manoj Ladwa, analista da ETX Capital, lembrando o temor principal dos investidores: que a BP adie novamente o pagamento de dividendos, que deverá ser feito no início de 2011 depois de ter sido bloqueado no verão (do Hemisfério Norte) a pedido das autoridades americanas.
Mas a maior parte dos especialistas se recusa a dramatizar a situação, assim como a própria empresa que, em uma primeira reação, ressaltou que a ação americana "não equivale de forma alguma a uma conclusão de culpa".
SEM PRAZO
Fiel a sua estratégia conciliadora depois da chegada de Bob Dudley à direção americana, a BP também ressaltou a disposição de "cooperar plenamente" com as autoridades americanas num processo sem estimativa de prazo para terminar.
A companhia se permite uma certa serenidade, pois já abasteceu seus cofres com US$ 40 bilhões para cobrir todas as despesas ligadas à maré negra. Ela também cumpriu dois terços de um vasto programa de cessão de ativos, que deverá render US$ 30 bilhões até o final de 2011.
A BP pode também se vangloriar de uma espetacular obtenção de benefícios, registrando no terceiro trimestre de 2010 um lucro líquido de US$ 1,785 bilhão. E o aumento recente do valor do barril do petróleo acena com um bom presságio para o futuro próximo.
Sinal da confiança intacta do mercado, a corretora Evolution Securities aconselhava nesta quinta-feira o título para compra, estipulando uma margem de progressão de cerca de 10% nos próximos meses. Também estimava que as compensações financeiras, que seriam exigidas à BP devido a leis ambientais americanas, deverão ficar abaixo do esperado, já que oito outras companhias são alvos do processo, entre elas a Transocean, proprietária da plataforma que explodiu em 20 de abril.
David Jones, da IG Index, considera que a nova ação americana deverá custar no final U$ 5 bilhões à BP, segundo sua estimativa, algo dentro do esperado para uma companhia que conseguiu recuperar valores o suficiente para pôr um ponto final aos rumores de quebra.
(Folha.com, 17/12/2010)