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2010-12-17 | Tatianaf

Brasil e Japão coordenam força tarefa em inventários nacionais de gases do efeito estufa do IPCC. Dúvidas levantadas em Cancún estão em discussão e poderiam mudar drasticamente, inclusive, nível de emissões brasileiras.

Poucos dias depois da COP 16, em Cancún, a discussão segue no Brasil. Desta vez, especialistas do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, trabalham na Força Tarefa em Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, coordenada por Brasil e Japão, e que reúne pesquisadores do mundo inteiro.

Por trás das nomenclaturas formais – gigatoneladas de carbono, emissões antrópicas, sumidouros –, o trabalho constante de um batalhão de cientistas norteia a discussão. E para que cada país honre o compromisso de publicar periodicamente relatórios nacionais com as emissões dos gases estufa, o manual de metodologia do IPCC estabelece as normas para que todos falem a mesma língua. Mas há ainda pontos obscuros para os quais os cientistas buscam soluções.

"Há a dificuldade de atribuir algumas emissões, por exemplo. Quais são causadas pelo homem e quais não são? Há lacunas metodológicas, por exemplo, quando se trata de áreas alagadas, como os reservatórios de hidrelétricas", exemplifica Thelma Krug, co-presidente da Força Tarefa e assessora de cooperação internacional do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, que sedia as reuniões até 18 de dezembro, em São José dos Campos (SP).

A solicitação para que o IPCC melhorasse a abordagem desse tema foi decidida no encontro de Cancún. O manual técnico para inventários nacionais de gases de efeito estufa deixa dúvidas e a abordagem que se dará ao tema é importantíssima e poderia mudar bastante, por exemplo, o nível de emissões do Brasil.

"Você já imaginou se se chegar à conclusão de que hidrelétrica não é uma boa coisa para mitigar a mudança do clima? Você acaba dando outro conceito a uma fonte renovável de energia, que pode contribuir significantemente para mitigação da mudança do clima. E a abordagem metodológica poderia levar aquele reservatório a ter tantas emissões, mas tantas emissões, que acaba se achando não ser positiva a construção de hidrelétricas", avalia Krug.

Isso porque as áreas alagadas para a construção dos reservatórios são grandes fontes de metano, um dos vilões do aquecimento global. Sobre a abordagem técnica que o manual do IPCC dará ao tema, Thelma Krug alerta para o risco: "Os efeitos benéficos que você poderia ter com uma energia baseada em hidrelétrica acabam se desfazendo, por você sobrecarregar reservatórios de emissões que não necessariamente são promovidos por causa da construção do reservatório."

O roteiro básico
Em 1995, o IPCC lançou o primeiro manual metodológico, que foi revisado no ano seguinte. Em 2000 e 2003 o órgão publicou um guia com boas práticas a serem observadas na hora de compor o inventário nacional e, em 2006, foi disponibilizado um novo manual revisado.

Apesar da publicação recente de 2006, os países continuam se baseando no manual de 1996 para confeccionar seus relatórios de emissões. "É um processo meio estranho, até meio discutível, a razão pela qual alguns países resistem à adoção do manual mais recente por pontos que eles acham que precisam ser mais bem explorados e desenvolvidos", opina a pesquisadora do Inpe.

Será que os países estariam evitando o guia mais recente por temer que os cálculos sugeridos pelo IPCC provoquem um aumento das emissões? Sobre a suspeita, Thelma Krug, opina: "Os países da União Europeia já implementaram o manual de 2006 para ver se haveria algum impacto. E chegaram à conclusão de que, em algumas áreas, ele vai implicar o aumento de emissão, mas em outras haverá diminuição. Ou seja, na média, concluíram que não haveria um impacto muito grande. Não sei se todos os países fazem esse exercício".

Segundo a Convenção do Clima, o uso da metodologia indicada pelo IPCC é obrigatório. Os países desenvolvidos, além do manual de 1996, precisam seguir também os dois guias de boas práticas lançados posteriormente. Já os em desenvolvimento, observam apenas o manual. O Brasil, dando o bom exemplo, segue a diretriz mandatória para os países ricos.

Inventário nacional: tarefa árdua
Fazer um inventário com todas as emissões nacionais não é simples. De fato, o grau de complexidade depende da qualidade do relatório. "No caso do Brasil, o inventário é muito detalhado, baseado em dados de muitas fontes, e busca a cada edição preencher lacunas de inventários anteriores, aperfeiçoar a precisão dos dados com vista a reduzir as incertezas dos números", comenta Krug.

Muitas nações, entretanto, seguem as regras mais rudimentares do IPCC e elaboram inventários simples. "Se o Brasil, um país em desenvolvimento, tem condições de fazer uma análise de desmatamento de todo o território, que é enorme, por que outros países não podem fazer também uso desses meios para precisar mais suas emissões?", critica a pesquisadora.

Segundo os pesquisadores, o Brasil produz um dos inventários de melhor qualidade técnica e informativa. "Existe sempre o questionamento. Por que alguns países podem fazer melhor, mesmo sendo países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil, da Índia, da China, que fazem relatórios muito bons, e outros países desenvolvidos e muito ricos, é melhor não citar nomes, que têm todo o acesso à informação e não fazem um inventário tão bom?", finaliza Thelma Krug.

(Por Nádia Pontes, DW-World, 16/12/2010)


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