Com o aumento da temperatura da terra e derretimento de grandes blocos de gelo no Ártico, as barreiras que antes isolavam alguns animais estão deixando de existir. Isso tem levado ao aparecimento de espécies híbridas, resultantes de acasalamentos “inesperados”, o que aumenta a chance de extinção de espécies raras e coloca em risco a biodiversidade da região. Essas ideias foram defendidas por Brendan Kelly, Andrew Whiteley e David Tallmon, em comentário publicado hoje na revista Nature.
Os autores ressaltam que o fenômeno não é necessariamente ruim e que tem sido fonte importante de novidades evolutivas. Mas o problema, segundo eles, é que a hibridização impulsionada por atividades humanas tende a acontecer rapidamente e a reduzir diversidade genômica e de espécies.
Eles listaram 22 espécies de mamíferos marinhos em risco de hibridização, como ursos polares e marrons, golfinhos, baleias, cachalotes, belugas, narvais, leões marinhos e diversos tipos de focas. e defendem a necessidade urgente de iniciar um programa de monitoramento de híbridos, incluindo quando é necessário prevenir ou limitar os acasalamentos.
Considerando as dificuldades de se restringir hibridizações em um ambiente como o Ártico, o iG perguntou aos autores como exatamente eles esperam fazer isso. “Concordo que prevenir hibridização ou abater híbridos em ambientes assim não será prático. No entanto, assinalamos que em outros locais, abordagens assim foram colocadas em prática”, afirmou Brendan Kelly, do National Marine Mammal Laboratory (NOAA) e International Arctic Research Center, ambos no Alasca.
“Se decidirmos que a remoção de híbridos é a melhor ação em um caso particular isso será, como você ressaltou, logisticamente e politicamente desafiador”, disse ao iG Andrew Whiteley, professor de conservação ambiental da Universidade de Massachusetts.
Segundo Whiteley, eles esperam primeiro estabelecer programas de monitoramento no Ártico. “Algumas hibridizações têm sido observadas, mas ainda em estágio inicial, ainda não generalizada. Se conseguirmos estabelecer um patamar agora, poderemos acompanhar se a taxa de hibridização aumenta, como previmos”, diz. E se aumentar, o que fazer? Podemos identificar híbridos geneticamente e removê-los da população? “Isso é mais viável em animas terrestres, ou organismos menores, como os híbridos de lobo vermelho no sudeste e as trutas no leste, ambos nos Estados Unidos”, diz.
Steven C. Amstrup, autor de estudo otimista publicado na mesma edição da Nature, não concorda que hibridização esteja impactando o ecossistema no Ártico, como defendem os autores do comentário. “Incitar preocupação sobre hibridização de ursos ou outras espécies é de fato uma distração das preocupações reais”, disse ao iG.
Segundo ele, não há perspectiva consistente de que o aquecimento global irá subitamente tornar a hibridização mais provável do que tem sido, e que mudanças na distribuição e disponibilidade de alimento são os fatores críticos. “No caso dos ursos polares e ursos marrons, provavelmente sempre houve um nível baixo de hibridização”, defende. Mas Amstrup acredita que haja sim inúmeras razões para combinar estudos genéticos aos modelos atualmente pesquisados de perda de gelo e oceanografia.
(Ultimo Segundo, 16/12/2010)