O governador eleito Renato Casagrande (PSB) anunciou, nesta terça-feira (14), via Twitter, que o atual presidente da Cesan, Paulo Ruy Carnelli, irá ocupar a Secretaria de Meio Ambiente no seu governo. A decisão confirma que Casagrande pretende manter a atual política ambiental do governo Paulo Hartung, sem tirar nem pôr. Durante estes quase oito anos de governo, as grandes empresas tiveram total autonomia para desenvolver seus projetos sem se preocupar com as “incômodas” condicionantes ambientais. A concessão de licenças ambientais funcionou como um balcão de negócios que sempre beneficiou as empresas em detrimento dos interesses da população.
Com a confirmação de Carnelli para a pasta, Casagrande entrega um cheque em branco para as grandes poluidoras. O presidente da Cesan, que é mais um homem de confiança de Hartung no governo de Casagrande, vai se encarregar de manter os acordos firmados com o atual governo.
Ao fazer uma escolha política e não técnica para a pasta, Casagrande deu marcha à ré diante da expectativa de os interesses do Estado e da população voltarem a prevalecer sobre os interesses econômicos dos grandes grupos que vão continuar usando o Espírito Santo como quintal de seus projetos.
Outros nomes
Antes de confirmar Carnelli, circulava nos meio políticos os nomes de Luiz Fernando Schettino e Fábio Anhert. O perfil mais técnico dos dois, porém, não era garantia de que os ex-cotados deixariam de atender aos interesses das transnacionais poluidoras. Schettino ocupou a secretaria logo no início do governo Hartung, mas logo a deixou para se candidatar. Foi quando Hartung “tirou” Maria da Glória Abaurre da conhecida empresa de consultoria ambiental Cepemar para ocupar a vaga de Schettino. Já Anhert é diretor de Recursos Hídricos do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
Ao contrário dos dois técnicos, Carnelli não entende nada de meio ambiente. Na Cesan desde o início do governo Hartung, Carnelli teve uma passagem relâmpago (abril de 2008 e setembro de 2009) pela Secretaria de Saneamento, Habilitação e Desenvolvimento Urbano. Na verdade, o “pai” do criticado programa Águas Limpas saiu estrategicamente da Cesan após ser alvo de uma enxurrada de denúncias que o acusavam de irregularidades em licitações, em especial às vinculadas ao programa Águas Limpas. Apaziguadas as denúncias, Carnelli, em outubro de 2009, reassumiu a Cesan, onde permanece até hoje.
Sempre demonstrando fidelidade canina ao governador, a relação entre Hartung e Carnelli vem de longa data. Nas eleições de 2002, Carnelli aceitou ajudar o amigo e candidato ao governo Paulo Hartung. Foi candidato laranja de Hartung. Sua função nas eleições daquele ano era atacar o candidato Max Mauro, principal concorrente de Hartung. Após cumprir com maestria seu papel de carrasco de Max Mauro, o candidato de araque ao governo pelo PSDB recebeu das mãos de Hartung o comando da Cesan como prêmio.
No governo de Casagrande, Carnelli abre mão do orçamento milionário da Cesan (R$ 664,2 milhões previstos para 2011) - que deve passar para mãos de outro escudeiro de Hartung, Neivaldo Bragato – para assumir a Secretaria do Meio Ambiente que, teoricamente, deveria orientar as ações da sociedade para o uso sustentável dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida dos capixabas.
(Por José Rabelo, Século Diário, 15/12/2010)