Os jornais brasileiros parecem ter sido surpreendidos, no último fim de semana, pelo acordo alcançado no encerramento da conferência sobre o clima realizado no balneário de Cancún, México.
Não apenas no primeiro registro da edição online da Folha de S.Paulo, às 10h50 da manhã de sábado (11/12), mas também na edição de papel do Estado de S.Paulo, no domingo (12), os editores dão a impressão de que não conheciam os meandros das negociações que estão em curso nesses eventos há mais de duas décadas.
O Globo destaca "um desfecho que tomou contornos dramáticos", ao observar que o acordo final foi apoiado por 193 dos 194 países participantes, com a recusa da Bolívia de assinar o tratado.
Representantes da Bolívia, assim como fez a Venezuela em Copenhague no ano anterior, se opunham desde o início à criação de um mecanismo de mercado para apoiar projetos de mitigação das causas do aquecimento global, por motivos ideológicos: na visão do governo boliviano, essa iniciativa "estimula o capitalismo".
Com atraso
Na verdade, a maioria dos observadores da questão ambiental anunciava há meses que uma das grandes probabilidades, ainda maior do que uma decisão em torno da extensão do Protocolo de Kyoto, era a da aprovação do sistema chamado REDD+, ou Mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de florestas tropicais.
A razão para tal certeza era o fato de que, na verdade, já está em pleno movimento o chamado mercado de créditos de carbono, pelo qual investidores colocam dinheiro em projetos para compensar os países tropicais pela redução do desmatamento.
A outra grande decisão que os jornais brasileiros estão chamando, simplificadamente, de Fundo Verde do Clima, é a oferta, pelos países desenvolvidos, de um fundo para o financiamento de ações adaptativas e combate a causas e efeitos das mudanças climáticas nos países em desenvolvimento e naquelas regiões mais ameaçadas pela elevação geral média dos níveis dos oceanos. Esses recursos já haviam sido definidos em Copenhague e parte deles já estava disponível há meses.
A imprensa tradicional do Brasil entrou atrasada na questão do clima, não tratou de recuperar o conhecimento acumulado nas quinze conferências realizadas anteriormente pela ONU e, claro, acaba surpreendida.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 13/12/2010)