Uma combinação mortal de sobrepesca, descarte ilegal de resíduos e comportamento irresponsável dos turistas foi a responsável pelos recentes ataques de tubarões no Egito, de acordo com as descobertas preliminares dos cientistas que vêm investigando o assunto.
No primeiro pronunciamento oficial sobre o porquê dos ataques nas águas normalmente plácidas de Sharm el-Sheikh na última semana – que mataram uma turista alemã e feriram gravemente mais quatro pessoas – os experts disseram que o descarte ilegal de carcaças por navios de carga que navegavam em águas próximas pode ter causado uma mudança de comportamento nso tubarões, que raramente são agressivos com os humanos. Reportagem em The Guardian.
A presença súbita de carne crua no Mar Vermelho coincidiu com um cenário de sobrepesca que esgota as presas naturais dos tubarões, e de nadadores e mergulhadores que agem irracionalmente tentando alimentar seres do mar – uma prática que é proibida, pois incentiva os tubarões se aproximar das pessoas e vê-las como fonte de alimento.
Temperaturas altas incomuns nessa época do ano ao redor de Sinai também podem ter encorajado os tubarões a se aventurarem por águas mais rasas, criando condições ideais para um trágico encontro com os visitantes que aproveitavam o mar e o sol.
“Isso deveria ser um aviso de que o oceano é o habitat natural dos tubarões e de que somos visitantes aqui”, disse Hossam El-Hamalawy, um salva-vidas do Mar Vermelho. “Quando começamos a mexer com os padrões de comportamento dos habitantes do mar estamos interferindo no ambiente deles e aí as consequências podem ser sérias”.
A investigação sobre os ataques, que deixaram as famosas praias Sharm vazias na alta estação, está sendo conduzida por três experts internacionais em tubarões, em cooperação com as autoridades egípcias. Os cientistas salientaram que a pesquisa sobre a causa dos acidentes continua e que eles ainda estão tentando chegar a conclusões a respeito, embora estejam convencidos de que ao menos duas espécies estejam envolvidas nos incidentes.
No Egito, havia dúvida sobre o êxito do trabalho dos especialistas. “Por que tiveram de importar todos esses experts que se saíram com as mesmas explicações que já tínhamos desde o primeiro dia?”, questionou o proprietário de uma estação de mergulho que preferiu se manter no anonimato.
“Estou surpreso que o governo tenha acordado e descoberto isso agora – o problema ecológico causado pela indústria do turismo no Mar Vermelho existe há décadas e nada foi feito a respeito ainda”, acrescentou El-Hamalawy.
O ministro do turismo do Egito confirmou hoje a oferta de US$ 50 mil a título de compensação para os turistas russos feridos na última semana.
(The Guardian, Estadao.com.br., EcoDebate, 13/12/2010)