A Amazônia vive hoje um momento de transição econômica, em que pode sair de uma fase predatória, de ocupação e desmatamento, para uma economia mais complexa. A afirmação é do pesquisador Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, durante o evento Diálogos Capitais, organizado em São Paulo pelo site Envolverde e revista Carta Capital para debater a Amazônia.
Segundo Veríssimo, não é mais aceitável que a economia da Amazônia seja baseada em desmatamento. "Em determinado momento, a sociedade decidiu que a escravidão era intolerável, que a inflação era intolerável. Essa transição que passa a Amazônia pode fazer com que a sociedade considere as altas taxas de desmatamento intoleráveis".
Para o pesquisador do Imazon, uma série de políticas foi responsável pela diminuição do desmatamento, principalmente as medidas ambientais mais duras, tomadas em 2008, como uma resolução do Conselho Monetário Nacional que restringiu o crédito a produtores que não estavam cumprindo a legislação ambiental.
"Estas medidas tiveram um impacto enorme na redução do desmatamento: foi a dureza da lei que mudou o comportamento dos produtores na Amazônia". Segundo Veríssimo, entretanto, essas medidas estão ameaçadas no Congresso pela anistia ao desmatamento.
O pesquisador se referiu à proposta de mudanças do Código Florestal, que prevê anistia a produtores que desmataram áreas protegidas. Na próxima terça-feira o Congresso deve votar o pedido para que o Código tramite em regime de urgência. A votação do mérito deve ficar para o ano que vem.
Apesar de a devastação florestal cair e de o governo cumprir a meta de controle do desmatamento, Veríssimo lembra que ainda tem muito a ser feito, e que essas metas não foram muito avançadas. Segundo o pesquisador, a ação dos movimentos sociais, mais pragmáticas nos últimos anos, aliada à imprensa livre, pressão da opinião pública e questão climática podem forçar um desenvolvimento mais sustentável na Amazônia.
A pesquisadora do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos também falou sobre a questão política, lembrando que o Código Florestal não mantém a floresta "intocável". "Não queremos que a Amazônia seja intocável. O que estamos dizendo é que a vocação dessa região é florestal", disse.
Segundo Adriana, a sociedade passou por uma mudança cultural grande, e agora é a vez de se ver engajamento por parte das empresas, onde a mudança é mais difícil. "A sociedade e as empresas ainda estão em lados opostos. A situação ideal seria que estivessem juntas em procedimentos de sustentabilidade. Precisamos incentivar para que a sustentabilidade seja parte inerente de seus processos produtivos das empresas".
(Por Bruno Calixto, Amazonia.org.br, 13/12/2010)