O delta do rio Níger na Nigéria, um dos ecossistemas mais visados do planeta com enormes reservas de petróleo, é testemunha de uma estrutura mafiosa formada por grandes petrolíferas, rebeldes e políticos corruptos, segundo documentos filtrados pelo site WikiLeaks publicado nesta sexta-feira pela revista "Der Spiegel".
A publicação reproduz vários documentos do consulado dos Estados Unidos em Lagos, que denuncia também o abandono por parte do Governo local. "Nos últimos 10 anos o Governo não construiu nenhuma rua nos estados do delta", afirmou um documento datado em fevereiro de 2009.
As informações da delegação dos EUA garantem que as autoridades federais nigerianas também não construíram escolas e hospitais na região com altos níveis de degradação do meio ambiente desde a chegada das companhias petrolíferas em 1960.
Os documentos confidenciais revelam que no delta do Níger é também vítima de sequestradores que às vezes atuam em conivência com as autoridades, assim como políticos corruptos.
Os rebeldes, apontou "Der Spiegel" com base nos documentos de WikiLeaks, costumam atacar os consórcios petrolíferos.
"É comum que os estudantes, durante suas férias, vão até os campos petrolíferos para ganhar algum dinheiro", explicou um comunicado do consulado dos EUA, que comenta que os estudantes costumam atacam torres de extração, comercializar petróleo e participar de sequestros.
"Ali os estudantes conseguem ganhar US$ 1 mil pelo período de três meses", afirmou o funcionário do consulado, que em outros relatórios destaca que cerca de 40% do petróleo refinado se perde antes de chegar a seu destino.
"As quatro refinarias estatais têm uma capacidade de 445 mil barris por dia, e sua história está cheia de sabotagem, má gestão e corrupção", aponta.
O petróleo extraído da região, segundo dados das Nações Unidas, supõe cerca de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) da Nigéria e proporciona 95% do lucro do país.
Apesar às grandes lucro de US$ 20 bilhões (equivalente a 15,1 bilhões de euros) ao ano, 75% da população do delta do Níger vive abaixo da zona da pobreza, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
(Terra, 10/12/2010)