Durante a convenção do clima em Cancún, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alertou sobre a possibilidade dos oceanos estarem acidificando na maior taxa em 65 milhões de anos.
Um quarto das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) é absorvida pelos oceanos, seja através do fitoplâncton ou da dissolução. Segundo revisões de literaturas científicas realizadas para o relatório ‘Conseqüências ambientais da acidificação dos oceanos’ do PNUMA, o aumento do CO2 atmosférico já causou uma queda de 30% no pH dos oceanos resultando em águas mais ácidas.
As implicações desta acidificação para as três bilhões de pessoas que dependem da pesca, devido aos impactos na cadeia alimentar marinha, ainda são desconhecidas, enfatizou o PNUMA. Muitos países pobres dependem exclusivamente da pesca para alimentar seu povo.
Porém, uma série de potenciais ameaças são elencadas pela ONU, como a redução no crescimento e efeitos sobre o desenvolvimento de peixes pequenos. O senso olfativo e de orientação do peixe palhaço, por exemplo, pode ser prejudicado tornando-os mais vulneráveis aos predadores.
“Se continuarmos na mesma taxa, teremos um aumento de 120% na acidez até o fim do século”, comentou a principal autora do relatório Carol Turley, que também é coordenadora no Programa de Pesquisas sobre Acidificação dos Oceanos - Reino Unido.
Outro efeito importante da acidificação já vem sendo descrito há anos por pesquisadores ao redor do mundo. A formação dos esqueletos de corais e crustáceos será extremamente prejudicada. “Algumas espécies que dependem dos recifes de coral e outras, como o salmão que se alimenta de organismos menores, que constroem conchas, em níveis mais baixos da cadeia alimentar” sofrerão impactos significativos, alerta o PNUMA.
Os recifes tropicais fornecem abrigo e alimento para 25% das espécies de peixes conhecidas e são a base da sobrevivência de 500 milhões de pessoas ao redor do mundo. A acidificação somada à pressão crescente sobre os estoques pesqueiros devido a sobre-exploração das áreas atuais e ausência de novas áreas inexploradas, leva a uma situação de emergência.
“Existem algumas opções de mitigação e adaptação abertas para nós. A mais óbvia é reduzir rapidamente e substancialmente a quantidade de emissões de CO2”, comentou o vice-diretor da divisão de políticas ambientais do PNUMA Tim Kasten.
Além disso, Kasten sugeriu mais pesquisas sobre as espécies marinhas mais flexíveis à mudança na acidez e trabalhar sobre a redução dos demais fatores de estresse, como a perda de habitats e a sobrepesca.
“A acidificação dos oceanos é outra bandeira vermelha sendo hasteada, levando alertas sanitários planetários sobre o crescimento descontrolado nas emissões de gases do efeito estufa. É uma peça nova e emergente no quebra-cabeça científico, porém que está desencadeando preocupações crescentes”, comentou Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA, ao incitar os governos a lidar com o assunto.
“A população pode muito bem questionar quantas bandeiras vermelhas os governos precisam ver até que a mensagem para agir seja absorvida”, enfatizou Steiner.
Até quando?
Um estudo publicado na Revista Nature em novembro de 2009, já afirmava que oceanos estão atingindo o limite na capacidade de absorção de dióxido de carbono, cuja emissão por atividades humanas não pára de crescer.
Samar Khatiwala, da Universidade Columbia, e colegas estimaram que os oceanos absorveram um recorde de 2,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono resultantes da queima de combustíveis fósseis em 2008. Mas, com o aumento na quantidade total de emissões, a proporção absorvida pelos oceanos desde 2000 caiu em cerca de 10%.
As complexidades envolvidas nos sistemas terrestres são incontáveis e estamos apenas tentando compreendê-las. Assim, os efeitos da oscilação nas características de um componente do sistema, influencia as outras, parte direta e indiretamente de formas diversas e além do nosso controle.
Há necessidade de pesquisas abrangentes, mas acima de tudo é preciso ações decisivas e corajosas dos líderes mundiais para engajar a sociedade em um modo de vida menos predatório.
(Por Fernanda B. Müller, CarbonoBrasil, IHU-Unisinos, 09/12/2010)