A União Europeia quer adiar para depois da cimeira de Cancún um acordo sobre a utilização dos mercados do carbono para beneficiar os países que protejam as suas florestas tropicais, disse a comissária europeia para a Acção Climática, Connie Hedegaard.
O objectivo de um acordo das Nações Unidas sobre florestas tropicais é pagar aos países que preservem as suas florestas e assim reduzam as suas emissões, através de um mecanismo chamado REDD (reduced emissions from deforestation and degradation). Segundo este sistema, os países que preservarem as suas florestas serão recompensados com créditos que podem depois ser vendidos a outras nações que ultrapassarem seus limites de emissões.
Mas a União Europeia (UE) considera que ainda é muito cedo. “Existe o risco de fazermos tudo de forma errada e pôr em causa todo o mercado de carbono”, comentou Hedegaard em Cancún. “Pensamos que devemos ser muito cautelosos e que precisamos de ter muita certeza daquilo que estamos a fazer.”
“Esperamos conseguir uma visão política geral sobre o REDD aqui em Cancún”, acrescentou.
Outro dos resultados esperados por Connie Hedegaard tem a ver com a transparência na ajuda financeira a longo prazo para os países em desenvolvimento e na forma como os vários países cumprem, ou não, as suas metas de redução das emissões. “É preciso reforçar a transparência das acções”, através de um “regime rigoroso”. Em cima da mesa estão dois mecanismos para o conseguir: MRV (Measurement, Reporting and Verification), previsto no Plano de Acção de Bali, de 2007, e o ICA (International Consultation and Analysis), sistema proposto recentemente pela Índia. Este país sugere que as nações que contribuem com mais de um por cento das emissões mundiais apresentem os resultados dos seus esforços de três em três anos. Os demais deverão fazê-lo uma vez a cada seis anos.
Connie Hedegaard comentou ontem em conferência de imprensa que desde o início da cimeira de Cancún houve progressos. Mas ainda está por resolver a questão da mitigação, ou seja, conseguir oficializar as propostas de redução de emissões que vários países fizeram no ano passado em Copenhaga, ancorando-as nas negociações climáticas da ONU. “Não podemos sair de Cancún de mãos vazias”, alertou.
A responsável europeia sublinhou ainda que os documentos que servem de base de trabalho para os ministros, que chegaram esta semana a Cancún, “ainda não estão prontos”. “São demasiado longos, têm demasiadas opções e são muito complicados”. Por isso, apela ao acelerar das negociações porque a cimeira termina sexta-feira.
(Publico.PT, 08/12/2010)