A China insistirá em manter suas emissões de gases do efeito estufa fora de qualquer tratado climático de cumprimento obrigatório, disse um diplomata chinês de alto escalão, qualificando de "mal entendido" uma afirmação anterior que sugeria concessões por parte de Pequim.
O chanceler-assistente Liu Zhenmin fez essas declarações em Cancún, onde quase 200 países discutem novas medidas contra o aquecimento global numa cúpula da Organização das Nações Unidas.
Liu afirmou a jornalistas, na terça-feira, que haverá uma "crise de confiança" se os negociadores rejeitarem o Protocolo de Kyoto, hoje em vigor, que exige reduções nas emissões de gases do efeito estufa apenas por parte de países desenvolvidos.
Japão, Canadá e Rússia, entre outros, dizem que não aceitarão renovar seus compromissos sob o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012, se grandes países emergentes, como China e Índia, também não tiverem metas obrigatórias a cumprir.
Na segunda-feira, o negociador climático chinês, Huang Huikang, disse à Reuters que seu governo aceitaria incluir as metas "voluntárias" de controle das emissões em um eventual tratado que fosse de cumprimento obrigatório. A declaração sugeria que a China estava fazendo uma importante concessão para facilitar a adoção de um novo acordo.
Mas Liu disse que a posição da China não mudou, e que houve um "mal entendido".
"Esta por natureza é uma promessa voluntária, uma promessa autônoma. 'Voluntário' e 'autônomo' significa que não é negociável", disse Liu. "É diferente dessas metas quantificadas de redução por parte dos países desenvolvidos", acrescentou.
Na segunda-feira, Huang havia declarado: "Podemos criar uma resolução, e essa resolução pode ser vinculante para a China."
Mas Liu disse que é cedo para discutir a inclusão dos esforços da China e de outros países em desenvolvimento nessa convenção.
"As negociações sobre como refletir as promessas, as ações voluntárias - essas negociações ainda não foram completadas. Há apenas algumas conversas", disse Liu. "Não se pode prejulgar o resultado por uma das opiniões."
Ele acrescentou que a China mantém sua posição de que os países desenvolvidos se beneficiaram mais com as emissões de carbono nos últimos dois séculos, e que por isso precisariam ter mais obrigações que os pobres e emergentes.
"É também uma questão de confiança política", afirmou. "Será uma crise internacional de confiança" se o Protocolo de Kyoto for colocado em dúvida, acrescentou.
(Por Chris Buckley, Reuters, Brasil Online, O Globo, 08/12/2010)