Na atividade em que participei ontem pude sentir a confirmação de que a Terra está gritando em toda sua extensão. Os amigos e amigas que falaram da realidade da Bolívia, México e El Salvador apresentaram os efeitos de eventos extremos de fenômenos antes naturais: furacões mais intensos e prolongados, enchentes, secas, degelo dos Andes, problemas para a agricultura, falta de água doce. E todos confirmando que se percebe que são frutos do aquecimento do planeta, que avança, e que, infelizmente, atingem mais severamente e provocam sofrimento aos mais empobrecidos.
No debate, mais uma vez foram retomados os argumentos dos poucos que insistem de que tudo isso faria parte de um período geológico; seriam, portanto, eventos naturais, em relação aos quais só nos cabe adaptar-nos, se formos capazes. Sua tese principal é a de que as ações humanas não estariam entre as causas das mudanças climáticas percebidas.
O diálogo serviu para ter segurança de que os dados mais seguros, confirmados pelo que todos percebem e sentem, e especialmente por dados científicos cada dia mais incontestáveis, pois novos estudos e pesquisas indicam claramente que a situação está se agravando, são os que o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU – sistematizou em seus quatro Relatórios, e de modos especial no último, publicado em 2007. São atividades humanas as causas principais constatadas para o aquecimento, que continua crescendo cada dia mais perigosamente. De fato, é preciso ter presente que estamos perto de um primeiro ponto sem volta e a partir do qual o desequilíbrio pode tomar direções incontroláveis.
Lembrar disso não é nada agradável. Mas é fundamental para que, com responsabilidade, cada pessoa faça o que pode e para que todas participem das pressões mundiais em favor de acordos que comprometam efetivamente todos os povos a fazer o que for necessário para modificar nossa relação com a atomosfera e com toda a Terra, abrindo caminho para que ela possa, ainda que num processo lento, retornar ao seu equilíbrio. De toda maneira, haverá mais aquecimento, mas poderemos parar num patamar em ainda será possível adaptar-nos para viver.
É fundamental ter clareza de que as mudanças implicam diminuir ou deixar de usar fontes fósseis de energia, de derrubar e queimar florestas, de criar tantos animais de grande porte, de usar o sistema atual de transporte, assentado no automóvel, de retirar da Terra mais bens do que ela é capaz de repor…
Em resumo, deveremos ter coragem de mudar o modo de viver que o processo de industrialização capitalista introduziu, assentado no produtivismo e no consumismo que mantém em crescimento constante uma economia que privatiza e concentra riqueza, renda e poder. As tentações em favor da continuidade são grandes, mas é preciso que a consciência das consequências ajude as pessoas a firmar suas motivações para ter coragem de mudar, e o mais rapidamente possível.
(IHU On-line, Ecodebate, 08/12/2010)