Empresas ligadas ao agronegócio foram as principais financiadoras de campanha dos 30 deputados federais eleitos pelo Paraná neste ano. Entre os R$ 16,3 milhões doados por pessoas jurídicas a integrantes da futura bancada estadual em Brasília, R$ 6,4 milhões (39,5%) vieram do setor (R$ 1,45 milhão apenas de cooperativas agrícolas). Em seguida, os principais colaboradores foram instituições ligadas à construção civil, com R$ 2,1 milhões (12,8%), e à produção de energia e combustíveis, com R$ 918 mil (5,6%).
Os números são uma compilação das prestações finais de contas apresentadas pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As doações das empresas foram agrupadas em 13 categorias, por ramo de atuação. Elas representaram 45% do total de R$ 36,2 milhões arrecadados pelos deputados eleitos – o restante é originário de autodoações (21%), de recursos de comitês de campanha e diretórios partidários (20%) e de repasses de pessoas físicas (14%).
Os números reforçam a ligação dos congressistas paranaenses com o setor agrícola. Segundo levantamento feito pela ONG Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) sobre os deputados da atual legislatura, 16 dos 30 representantes do Paraná eleitos em 2006 eram ruralistas. Ou seja, têm interesses ou negócios no campo, seja como primeira ou segunda fonte de renda.
Desses 16, dez foram reeleitos – Abelardo Lupion (DEM), Alfredo Kaefer (PSDB), Cézar Silvestri (PPS), Dilceu Sperafico (PP), Eduardo Sciarra (DEM), Fernando Giacobo (PR), Hermes Parcianello (PMDB), Luiz Carlos Hauly (PSDB), Moacir Micheletto (PMDB) e Nelson Meurer (PP).
Além deles, também integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (a FPA, braço formal da bancada ruralista no Congresso Nacional), os eleitos Alex Canziani (PTB), André Zacharow (PMDB) e Hidekazu Takayama (PSC).
As empresas ligadas ao agronegócio fizeram 202 doações para 23 eleitos. Além dos que já integram a frente, foram contemplados com recursos o ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes (PMDB), o campeão de votos Ratinho Júnior (PSC) e os petistas André Vargas, Angelo Vanhoni e Assis do Couto. Também houve colaborações do agronegócio para os novatos Cida Borghetti (PP), Fernando Francischini (PSDB), Nelson Padovani (PSC), Rubens Bueno (PPS), Sandro Alex (PPS) e Zeca Dirceu (PT).
Recordista
Paranaense com a campanha mais cara para a Câmara, o tucano Alfredo Kaefer foi o recordista no recebimento de doações no setor agrícola. No entanto, teve apoio das próprias empresas. Ele é diretor-presidente da Diplomata, quarta maior empresa do ramo de aves e suínos do Brasil (que doou R$ 1,7 milhão para sua campanha) e sócio de outra gigante da área, a Globoaves (que contribuiu com R$ 1 milhão).
O Grupo JBS Friboi, maior doador da campanha da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), concentrou esforços em uma doação de R$ 360 mil para Alex Canziani. Já a Bunge Fertilizantes, distribuiu R$ 300 mil entre as candidaturas dos deputados do DEM Abelardo Lupion e Eduardo Sciarra (ambos receberam R$ 80 mil), de Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Moacir Micheletto (PMDB) – R$ 70 mil para cada.
Líder ruralista histórico e atual presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Lupion também recebeu R$ 50 mil da empresa de fertilizantes Ultrafertil, R$ 50 mil da fabricante de sucos Cutrale e R$ 30 mil da produtora de cereais Anaconda.
Sciarra recebeu ao todo R$ 215 mil de dez empresas alimentícias diferentes, incluindo R$ 30 mil da Globoaves, de Kaefer. Outros preferidos do setor são Moacir Micheletto, que recebeu R$ 254 mil, Dilceu Sperafico (R$ 289 mil) e Luiz Carlos Hauly (R$ 153 mil).
As preferências se repetem nas doações feitas pelas cooperativas agrícolas, um dos setores mais fortes da economia paranaense. Lupion recebeu R$ 135 mil divididos entre cinco cooperativas diferentes. As colaborações mais polpudas, entretanto, foram feitas por uma “estrangeira”, a Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar).
A cooperativa paulista doou R$ 650 mil para quatro paranaenses. Hauly e Stephanes ficaram com R$ 250 mil cada um; Micheletto com R$ 100 mil; e Sciarra com R$ 50 mil.
(Por André Gonçalves, Gazeta do Povo, IHU-Unisinos, 06/12/2010)