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conservação da biodiversidade política ambiental na AL
2010-12-06 | Tatianaf

Para continuar sustentando o crescimento econômico, a América Latina está diante da decisão de colocar em risco sua rica biodiversidade ou ser o líder mundial da oferta de serviços gerados em seus ecossistemas. A mensagem surge do informe “América Latina e Caribe. Uma superpotência de biodiversidade”, lançado ontem, véspera do início da 20ª Cúpula Iberoamericana, que por dois dias será realizada na cidade argentina de Mar del Plata, 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires.

O vasto estudo de mais de 400 páginas, no qual trabalhou uma equipe de 500 pessoas durante dois anos, foi elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e outros organismos regionais e internacionais. O objetivo foi informar as autoridades e empresas da região sobre oportunidades e riscos econômicos envolvidos em atividades produtivas como agricultura, mineração, pesca ou reflorestamento que afetam a biodiversidade e os serviços ambientais.

As Nações Unidas declararam 2010 Ano Internacional da Diversidade Biológica, para conscientizar sobre o grave problema da perda de biodiversidade e promover iniciativas que detenham o ritmo dessa queda, para preserva a vida humana.

As conclusões são otimistas porque, apesar de o estudo registrar subsídios com impactos negativos no meio ambiente, também são destacados incentivos que funcionam favoravelmente para os ecossistemas e a economia. “A região abriga seis dos países com maior diversidade do mundo, Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela”, disse à IPS Emma Torres, conselheira do Pnud para meio ambiente e energia na América Latina.

Estes países ocupam 10% da superfície terrestre, mas possuem 70% das espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, plantas e insetos, segundo o estudo. Em seu território se estende a área de maior biodiversidade do planeta, a selva amazônica. Somente na América do Sul encontra-se 40% da diversidade biológica da Terra, além de um quarto de suas florestas. Já a América Central, apesar de cobrir apenas 0,5% da massa terrestre, contém 10% de sua diversidade biológica. No Caribe, 50% da vida vegetal é endêmica, isto é, não é encontrada em nenhum outro lugar do planeta.

Este patrimônio cultural contribui efetivamente para as economias de seus países. Porém, na medida em que esse desenvolvimento não seja sustentável o capital estará em risco. Daí o informe valorizar a natureza e recomendar caminhos. Por exemplo, destaca que, no México, as áreas protegidas proporcionam US$ 3,5 bilhões anuais à economia asteca, o que equivale dizer que cada peso mexicano investido em parques nacionais gera outros 52 pesos.

Também diz que entre 66% e 75% dos turistas estrangeiros que viajam à região visitaram pelo menos uma área protegida, e cerca de 94% das empresas de turismo do Caribe asseguram depender da natureza que os rodeia. Na Venezuela, 73% da eletricidade gerada em 2007 saiu de hidrelétricas que captam suas águas em diversos parques nacionais. E no Peru, 376 mil hectares de terras cultivadas são irrigados com água de áreas protegidas.

O informe destaca que na última década a região conseguiu “êxitos excepcionais quanto ao crescimento econômico e à redução da pobreza e, apesar da crise financeira global, seu futuro econômico é promissor”. Neste contexto, a biodiversidade “tem um papel fundamental, que ainda não foi suficientemente valorizado em sua verdadeira dimensão”. Emma adiantou que há especialistas em estatísticas trabalhando para quantificar esse capital.

Não se trata apenas de preservar recursos que servem à produção, mas de valorizar o potencial que a natureza tem como laboratório para a produção de soluções médicas, um setor no qual a região pode ser líder, diz o estudo. A indagação revela, que se em nível global apenas 12% do planeta está sob algum tipo de proteção, a média da região é maior, com casos destacados como Colômbia, que tem 43% de seu território protegido.

Emma destacou que um dos principais sucessos da região é a redução do desmatamento na Amazônia brasileira e comemorou a criação de um preço mínimo garantido pelo Brasil para produtos obtidos da biodiversidade. Também ressaltou o compromisso da Associação Brasileira de Exportadores de Carne que proibirá a compra de gado procedente de áreas de desmatamento recente, algo semelhante à promessa feita pela indústria da soja.

Por sua vez, o México implementou um mecanismo de pagamento em grande escala por serviços hidrológicos que coloca valor à proteção dos recursos hídricos do país. No Peru, um programa de redução do excesso de pesca de anchovas foi compensado com incentivos governamentais para a reciclagem profissional dos trabalhadores do setor, promoção de microempresas e aposentadoria antecipada.

“Há diversas e inovadoras propostas de compensação pelos esforços de conservação”, diz o informe, e cita como exemplo que o “Equador pediu ao mundo reembolso de US$ 3,6 bilhões para não explorar reservas petrolíferas” em uma área protegida: o Parque Nacional Yasuní, de 9.820 quilômetros quadrados.

Por outro lado, o estudo alerta que “as decisões míopes podem causar um desenvolvimento de baixa qualidade e dar lugar a ciclos de eclosão e colapso. Além de seu valor intrínseco, o imenso capital natural da região representa sua vantagem competitiva”, afirma o documento. “A conservação deste patrimônio apresenta uma oportunidade – não um custo, nem uma limitação – para a formulação de um novo modelo de desenvolvimento baseado na integridade ecológica, saúde humana e igualdade social”, conclui o estudo. Envolverde/IPS

(Por Marcela Valente, IPS, Envolverde, 3/12/2010)


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