De acordo com um estudo publicado hoje na revista científica Environmental Health Perspectives, a exposição ao bisfenol A (BPA) durante a gravidez pode comprometer a capacidade reprodutiva da prole. O bisfenol A é um químico usado na fabricação do plástico e como revestimento interno de latas. Em contato com os alimentos pode contaminá-los e sua ingestão já foi associada a doenças como câncer, diabetes, infertilidade e obesidade. Segunda essa nova pesquisa a fertilidade diminuiu ao longo do tempo em ratas fêmeas que durante as fases fetal e neonatal (perinatal) de desenvolvimento tinham sido expostas ao químico em doses menores ou iguais à exposição de humanos.
“Ratas expostas ao BPA durante a fase embrionária e na e amamentação ficaram menos vezes grávidas e deram a luz a menos filhotes durante o período do estudo,” explicou uma das autoras da pesquisa, Ana M. Soto, MD, professora de anatomia e biologia celular da Escola de Medicina da Universidade Tufts (TUSM). Ana é uma das pioneiras na pesquisa sobre o bisfenol A.
Três doses foram testadas. Na mais alta, somente 60% das ratas expostas ficaram grávidas. No grupo de controle, que não esteve em contato com o bisfenol A, essa porcentagem subiu para 95%. O declínio da capacidade reprodutiva de fêmeas neste estudo não foi uma conclusão óbvia na primeira gravidez, quando animais eram jovens, mas se manifestou mais tarde, com um declínio do número de filhotes nascidos por parto. “Essa descoberta é importante pois testes toxicológicos de reprodução hoje em dia consistem em avaliar o sucesso da primeira gravidez em animais jovens. Se a reprodução subsequente não for avaliada, efeitos relevantes poderão ser perdidos,” explicou a co-autora da pesquisa, Beverly S. Rubin, PhD, professora de anatomia e biologia celular na TUSM.
“Além disso, o efeito da infertilidade do BPA em nosso estudo foi relacionado à dose. A menor dose e maior dose impactaram a fertilidade, enquanto a intermediária não causou efeitos. Esse fenômeno, chamado de não monotonicidade é uma característica comum aos hormônios. Em outras palavras, químicos precisam ser testados em uma variedade de doses a fim de evitar resultados falsos,” complementou Carlos Sonneschein, professor de anatomia e biologia celular na TUSM.
O BPA tem efeitos que imitam os do estrogênio, um hormônio natural. “O BPA está presente em mais de 92% da população americana testada, com altos níveis em crianças e adolescentes comparados a adultos. Também já foi detectado no plasma maternal e fetal,” disse uma das pesquisadoras, Perinaaz R. Wadia. “E é por isso o estudo tem uma grande relevância para a saúde de humanos, já que o bisfenol A está presente em tantos produtos utilizados diariamente, provocando uma exposição constante”, explicou o pesquisador Nicolas J. Cabaton.
Europa – Uma reunião de onze entidades de defesa ao consumidor e do meio ambiente se manifestou sobre a proibição do bisfenol A na Comunidade Europeia. O grupo apoia a proibição do BPA em mamadeiras e alerta que essa iniciativa não é suficiente. Eles pedem que a Comissão Europeia proíba a utilização do químico em toda cadeia alimentar, como por exemplo no revestimento interno de latas e que por fim, proíba o uso do BPA em qualquer outro produto relevante para a exposição humana e ambiental, como no caso dos recibos eletrônicos.
(O Tao do Consumo, EcoAgência, 03/12/2010)