Depois de uma onda de relatórios dando conta de um déficit das ações por parte de países da Convenção Marco das Nações Unidas (CMUCC) na prevenção de catastróficas mudanças climáticas, a prioridade dos países reunidos na COP do Clima em Cancún é acertar um plano para se por em dia, segundo a Rede WWF.
"No momento, existe um gap claro entre a meta fixada de limitar o aquecimento global e os compromissos internacionais assumidos em mitigação e financiamento”, disse Gordon Shepherd, líder da Iniciativa Global do Clima da Rede WWF. “Entretanto, percebemos um ímpeto cada vez maior em vários países para atuar em favor do clima em nível nacional – como é o caso do México – que esperamos que contribua para um acordo global de clima.
"Os resultados de Cancún devem demonstrar explicitamente o reconhecimento de que há um déficit na ação internacional para o corte de emissões para níveis seguros e a proteção das pessoas e do planeta contra os impactos das mudanças climáticas. A partir daí, deve-se empregar este ímpeto nacional para apresentar um plano claro para reduzir este déficit”, disse Vanessa Pérez-Cirera, diretora do Programa de Mudanças Climáticas do WWF-México.
"Para se por em dia com a situação atual, o plano deve prever avanços em várias áreas-chave e as mais promissoras são o financiamento para a questão das mudanças climáticas, proteção das florestas, a ajuda às pessoas vulneráveis em busca de adaptação aos impactos das mudanças climáticas, e a construção de um sistema transparente para a promoção de cortes de emissões”, disse Pérez-Cirera.
O importante, para Cancún, é a construção de ferramentas que permitam a ação em campo e desenhem a arquitetura para um acordo global, sem que se precise esperar por um pacote completo de soluções que surja como um todo”, disse Shepherd.
Brasil em Cancún – Para o WWF-Brasil, o país, deve assumir posição de liderança em busca de um acordo global legalmente eficiente, junto à UNFCCC, que ofereça as bases para o desenvolvimento de baixo carbono. O Brasil, como guardião da maior biodiversidade do planeta e das maiores reservas de água doce, deve dar exemplo pelos esforços domésticos para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, pela transparência e por sua liderança no processo internacional dentro do UNFCCC.
“O Brasil já demonstrou, em outras oportunidades, sua capacidade de liderança. Por isso, sua atuação é crucial durante a COP 16, mirando em acordos legalmente robustos no ano que vem, na África do Sul”, avaliou Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil,
São as seguintes as propostas do WWF-Brasil para a participação do país na COP:
* O Brasil deve liderar o processo de negociação rumo a um acordo robusto em REDD, com uma meta global relacionada à provisão e acesso a recursos financeiros.
* O Brasil deve se comprometer com o desenvolvimento de um Plano de Ação de Baixo Carbono com uma visão de longo termo para 2050 e apresentar formalmente suas Ações Nacionais Apropriadas de Mitigação.
* O Brasil deve apoiar o progresso de fontes inovadoras de recursos para financiamento público às ações de combate às mudanças climáticas.
* O Brasil precisa assumir a liderança dentro do BASIC e apoiar um acordo legalmente robusto na COP 17, na África do Sul.
O Código Florestal e a COP – Além de propor maior protagonismo brasileiro em Cancún, o WWF-Brasil também sugere coerência ao país. Mudanças propostas no Código Florestal, em discussão no Congresso Nacional, colocam em cheque a capacidade do país de reduzir o desmatamento e de atingir nossas metas de redução de emissões.
“Um estudo contratado pelo Observatório do Clima demonstra que as mudanças propostas no relatório do deputado Aldo Rebelo poderiam resultar em destruição de grandes áreas de florestas e de aumento substancial das emissões brasileiras de gases de efeito estufa. O Brasil precisa ser coerente entre suas políticas e com o discurso que apresenta ao mundo nas negociações de clima.”, observou Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
(WWF Brasil, Amazonia.org.br, 01/12/2010)