A taxa de extinção de aproximadamente 2.500 espécies biologicamente únicas de anfíbios, aves e mamíferos que vivem nas florestas do mundo , poderia ser reduzida drasticamente – entre 46 a 80% durante um período de cinco anos - com o adequado financiamento para apoiar projetos de REDD + (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).
Essa descoberta representa uma das várias estimativas relatadas por cientistas da Conservação Internacional (CI) em um novo estudo científico destinado a apoiar as discussões durante a 16 ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), em Cancún, México.
O artigo "Co-benefícios para a Biodiversidade na redução de emissões provenientes de desmatamento abaixo dos níveis de referência alternativos e níveis de financiamento"(Em inglês, “Biodiversity co-benefits of reducing emissions from deforestation under alternative reference levels and levels of finance”) (Busch et al. 2010) modela as taxas nacionais de desmatamento em 85 países em um cenário com mecanismo de REDD +implementado nos últimos cinco anos (2005 -2010). O estudo apresenta também as relações entre REDD como uma ferramenta de mitigação das alterações climáticas e os potenciais benefícios à biodiversidade da floresta. O artigo está disponível online na revista científica Conservation Letters.
A principal conclusão do estudo é que um mecanismo de REDD + teria reduzido substancialmente a taxa de desmatamento em todos os 85 países (em comparação com os índices de desmatamento no mesmo período). Mais especificamente, o financiamento "completo" para REDD+ em cinco anos, teria levado a uma queda no desmatamento total entre 68- 72%; financiamento "parcial" teria diminuído o desmatamento entre 50-54%, e financiamento "mínimo" teria reduzido as taxas de desmatamento combinado entre 27 -29%, de acordo com as simulações do estudo.
Outro benefício adicional para a implementação do REDD+ foram as quedas significativas na taxa de extinção que seriam alcançadas em todos os três cenários de financiamento apresentados no estudo, taxas bem abaixo do nível considerando as tendências atuais. De acordo com simulações do estudo, durante o mesmo período de cinco anos, a taxa de extinção de 2472 espécies florestais (anfíbios, aves, mamíferos) teria reduzido de:
• 78 a 82% num cenário de financiamento total (US$ 28-31 bilhões por ano)
• 71 a 74% num cenário de financiamento parcial (US$ 14-15 bilhões por ano)
• 43-49% num cenário de financiamento mínimo (US$ 5-6 bilhões de dólares por ano)
Muitas das reduções foram atribuídas ao fato de que os países com maior número de espécies endêmicas (encontradas em nenhum outro lugar na Terra), também foram os países com maior capacidade de armazenamento de carbono das florestas tropicais. Isso, por sua vez, potencializa a participação desses países no REDD+. Vinte e cinco países de alto endemismo abrigam em conjunto 94% dessas espécies únicas de anfíbios, pássaros e mamíferos.
Espécies de florestais tropicais em particular, as quais representam cerca de dois terços de todas as espécies terrestres conhecidas, estão cada vez mais ameaçadas pelo desmatamento em decorrência da mudança de padrão do uso da terra, e consequente perda de habitat. Esses fatores em conjunto são os maiores responsáveis para a extinção de espécies atualmente. Ao mesmo tempo, a derrubada e queima das florestas tropicais contribui aproximadamente com 15% das emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelas alterações climáticas.
"O que esta pesquisa nos diz é que o REDD+ pode ser uma solução para a proteção do nosso clima e para a conservação da biodiversidade onde todos saem ganhando", afirma Jonah Busch, principal autor do relatório e economista para clima e floresta da Conservação Internacional.
"Embora qualquer redução nas taxas de desmatamento e extinção seria uma boa conquista, a mensagem principal é que o nível de financiamento de REDD+ será o principal impulsionador do verdadeiro progresso. Um maior financiamento levará a maiores reduções no desmatamento, maior armazenamento de carbono nas florestas, e maiores benefícios para a biodiversidade. Isso tudo está interligado", conclui Busch.
"O que estamos vendo é que o REDD+ pode ser uma parte importante da solução para dois dos maiores desafios da humanidade ao mesmo tempo, a perda de biodiversidade e a mudança climática. Com o financiamento adequado, REDD+ será um socorro imediato para a biodiversidade global da qual todos nós dependemos, e é uma das ferramentas prontamente disponíveis que está a nossa disposição para reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, explica Will Turner, co-autor do relatório e diretor sênior da Conservação Internacional.
"Embora nós não possamos afirmar o número exato de espécies que poderiam ser salvas por um mecanismo de REDD+ que ainda não tenha sido formalmente acordado, temos certeza que seria um grande número. À medida que os financiamentos climáticos comecem a ficar disponíveis para países que estão diminuindo o desmatamento, nós vamos ter uma ideia mais clara dos benefícios do REDD+", afirma Busch.
O artigo conclui com uma chamada para os participantes e observadores das negociações climáticas em Cancun para colaborar e garantir que as negociações ofereçam como resultado um mecanismo de REDD+, que tenha dois pontos principais. Primeiro que seja totalmente financiado, e ainda que seja construído de modo a incentivar a ampla participação de todos os países que abrigam floresta.
"Uma decisão acertada sobre REDD+ em Cancun marcaria um momento crucial nos esforços de mitigação do clima," afirma Rebecca Chacko diretora de Políticas Climáticas da CI."Mas é apenas uma parte da solução. Precisamos também de progressos em todos os aspectos de um acordo climático e também um cronograma que coloque o mundo no caminho para alcançar esse acordo antes de 2012”, acrescenta Rebecca.
"Nós acreditamos que esse acordo é possível, como nas recentes negociações sobre biodiversidade no Japão, quando 193 países se reuniram como uma comunidade global e olharam além das agendas nacionais para se concentrar sobre o futuro da vida na Terra e seu papel essencial no bem-estar humano”, afirma a diretora.
Segundo Rebecca, nas próximas duas semanas, estes mesmos países terão mais uma oportunidade importante de firmar um compromisso para irá beneficiar todos os países. “Ao fazer isso, eles podem nos colocar de volta no caminho para a solução de um dos maiores desafios do mundo. Soluções climáticas de grande escala e a longo prazo, só serão possíveis com ações decisivas pela UNFCCC. O único organismo internacional sobre o clima, que inclui todos os países do mundo ", conclui Rebecca.
(Envolverde/Conservação Internacional, 02/12/2010)