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impactos mudança climática vulnerabilidade a desastres
2010-12-02 | Tatianaf

Os moradores das comunidades próximas a Trinityville, no distrito jamaicano de St. Thomas, estão acostumados a ficar ilhados por vários dias por culpa de desastres climáticos. Rodeados por planícies que inundam e por numerosas correntes hídricas, é pouco o que podem fazer para evitar os transbordamentos. No entanto, elaboraram um plano para minimizar os efeitos dos deslizamentos de terras em suas comunidades e para instalar equipes e abastecimentos para aliviar esses períodos de isolamento.

Fortes chuvas e furacões afetam várias vezes ao ano Trinityville e as cinco comunidades localizadas à sombra do pico mais alto da Jamaica, nas Montanhas Azuis, disse à IPS o diretor da Associação de Proteção Ambiental de St. Thomas, Terrence Cover. A mais de 2.800 quilômetros dali, em Wageningen, uma localidade costeira no noroeste do Suriname, os habitantes traçaram um plano. Durante vários anos, mais de cem casas do povoado foram inundadas cada vez que caíam fortes chuvas sobre a Amazônia. Em fevereiro, instalaram remodeladas comportas que voltaram a protegê-los.

Criada em 1949 nos baixos pântanos que se estendem ao longo das ribeiras do Rio Nickeri, Wageningen estava protegida por um sistema de diques e comportas que impediam inundações e transbordamentos. Com o tempo essa proteção se deteriorou e ficou permanentemente aberta, deixando os seis mil habitantes da área vulneráveis às inundações. Com concessões entre US$ 24 mil e US$ 73 mil, comunidades desde o Suriname, na América do Sul, até a Jamaica, no Norte, e Barbados, no Leste do Mar do Caribe, levam adiante sua capacidade de suportar desastres naturais.

O Fundo do Canadá para o Manejo de Risco de Desastres no Caribe (CCDRMF) ajuda as comunidades pobres a criar e executar projetos de redução de riscos de desastres. Este órgão é parte do regional Programa Caribenho de Manejo de Riscos de Desastres, do governo do Canadá. Foi criado para apoiar organizações não governamentais e agências de governos da Comunidade do Caribe (Caricom) na implementação de projetos comunitários de pequena escala para reduzir os riscos dos muitos perigos naturais que afetam a região. Entre eles, inundações, secas, tempestades e furacões.

Embora o Caribe experimente eventos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes, possivelmente devido à mudança climática, o coordenador do Fundo, Leslie Walling, acredita que o projeto esteja fazendo uma diferença. “Torna-se cada vez mais claro que os primeiros passos para a adaptação à mudança climática devem ser para adequação aos atuais extremos climáticos”, disse à IPS. Apesar da necessidade de funcionar, o projeto de Trinityville está paralisado por falta do conhecimento técnico. Esta carência é um tema recorrente em projetos apresentados pelas comunidades jamaicanas ao Fundo, porque a maioria necessita de obras de infraestrutura.

De fato, com o passar dos anos, vários projetos ficaram pelo caminho. Nos últimos tempos, o problema piorou porque as agências estatais resistem em fornecer o conhecimento técnico sem ter um acesso direto aos fundos de doadores. Além disso, a destinação de dinheiro para iniciativas de risco de desastres só ocorre com resposta a impactos concretos, e os doadores não conhecem fundos para pagamento de pessoal ou para trabalhos técnicos.

É comum acreditar que a culpa se deve à falta de um sistema que rastreie os milhares de milhões de dólares gastos por ano em adaptação e recuperação, opinião apoiada por Barbara Carby, diretora do Centro de Redução do Risco de Desastres, na University of the West Indies. Segundo Barbara, os investimentos em medidas de adaptação são marginalizadas porque os resultados das mesmas “habitualmente não são vistos durante muitos anos, até ocorrer um desastre”.

Em outras partes da região, as associações entre agências do governo, organizações não governamentais e entidades profissionais estão dando seus frutos. Em San Vicente, a Rainbow Radio League, um grupo de operadores de rádio independentes, trabalhou com o governo e outras organizações para criar uma rede de comunicações de emergência, que conectará nove comunidades vulneráveis com agências e instituições cruciais, entre elas das vizinhas ilhas de Martinica, Dominica, Granada e Santa Lucía.

Apesar de incompleto quando o furacão Tomás atingiu as ilhas Windward, no final de outubro, o sistema foi implementado quando os fortes ventos desligaram os serviços de eletricidade e telefonia, disse o coordenador do projeto, Donald De Riggs. Alimentada com paineis solares e turbinas eólicas, a Rainbow Radio League prestou inestimáveis serviços de comunicação entre as populações afetadas. De novo em Wageningen, com as duas comportas restauradas e funcionando plenamente, a comunidade não só está mais segura como também associou-se ao governo para criar um departamento técnico especial que mantenha e repare comportas em todo o distrito.

Na costa sudoeste de Dominica, os moradores das comunidades gêmeas de Morne Jaune e Riviere Cyrique trabalharam em colaboração com o escritório nacional de desastres e o Ministério de Obras Públicas para criar um abrigo de emergência. Um dos poucos certificados existentes na região, o Abrigo Comunitário Tere Yam, agora atende 592 aldeões e tem espaço para dezenas de outras atividades comunitárias. O coordenador do Fundo, Leslie Walling pretende criar a capacidade técnica dentro das comunidades beneficiadas, junto com os 80 projetos cujo financiamento está previsto entre começo de 2008 e final de 2015.

Com 24 projetos em várias etapas de execução e outros 39 aptos para receber dinheiro, o gerente do Fundo do CCDRM busca mais ajuda. “Se não se pode enfrentar o atual furacão e as chuvas extremas de agora, então não se poderá enfrentar o que virá”, alertou Leslie.

(Por Zadie Neufville, IPS, Envolverde, 1/12/2010)


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