Um ano depois de o presidente norte-americano, Barack Obama, ter trabalhado pessoalmente para salvar a cúpula do clima em Copenhague, algumas mudanças políticas deixaram os Estados Unidos com muito menos influência sobre o tema, enquanto a China avança.
Os negociadores da cúpula do clima da ONU em Cancún, no México, enfrentam a dura tarefa de convencer a China e outras economias emergentes a assinarem um tratado vinculante, sem oferecer concessões que poderiam causar reações em Washington.
O Partido Democrata de Obama sofreu uma dolorosa derrota nas eleições legislativas de 2 de novembro para o Partido Republicano, que já avisou ser contra um plano nacional para restringir as emissões de dióxido de carbono --um dos gases casadores do efeito estufa.
"Os Estados Unidos têm o poder de uma grande nação, mas sua capacidade de prometer muito mais está bastante limitada pela situação interna", disse Alden Meyer, diretor de estratégia e política do grupo USC (Union of Concerned Scientists, ou União de Cientistas Preocupados).
"Está bastante claro que, nos próximos anos, não haverá uma legislação geral sobre o clima nos Estados Unidos", indicou.
"O governo precisa ser cuidadoso em relação a como vai agir aqui (em Cancún), porque não pode permitir que nenhuma retórica cética em relação ao clima seja alimentada", disse Meyer.
EM 2009
No ano passado, Obama foi pessoalmente a Copenhague para negociar com outros líderes mundiais o acordo que estabeleceu como meta limitar o aquecimento global em dois graus Celsius, mas sem explicar como faria isto.
Durante a cúpula, a secretária de Estado Hillary Clinton prometeu que os EUA contribuiriam com um fundo internacional de US$ 100 bilhões anuais até 2020 para ajudar os países pobres mais afetados pelas mudanças climáticas.
Além disso, os Estados Unidos e outros países desenvolvidos insistiram que a China, maior emissor do mundo de dióxido de carbono, concorde em reduzir suas emissões sob um tratado legalmente vinculante, mas poucos esperam que isto seja alcançado em Cancún.
A disputa foi tensa em vários momentos. Em uma reunião em outubro, organizada sob o patrocínio da ONU, o chefe das negociações sobre o clima na China, Su Wei, disse que os Estados Unidos são como um "porco que não se olha no espelho" e se acha bonito.
A China não mostrou sinais de que pretende mudar sua postura, contrária a um tratado, mas aumentou o investimento em energias renováveis --como a solar e a eólica. Dois estudos recentes descobriram que o investimento chinês em tecnologias verdes já superou o americano.
Ailun Yang, chefe de Clima e Energia do Greenpeace no leste asiático, disse que a China está agindo basicamente devido a impulsos internos. Seu uso desenfrenado de carvão está causando sérios problemas ao ambiente e os chineses temem por sua segurança energética, dado que sua acelerada economia depende das importações de petróleo.
Mas Yang estimou que a China não está disposta a ter um papel mais ativo nas negociações internacionais, apesar do chamado de alerta em Copenhague.
"A China está tão impressionada quanto, provavelmente, qualquer outro com as mudanças nas expectativas internacionais do país. Mas o governo simplesmente não parece capaz de estar à altura destas expectativas", argumentou.
"Acho que a situação atual significa que os Estados Unidos terão menos influência nas negociações internacionais, e que a China enfrentará mais pressões", apontou.
Para alguns, as novas negociações parecem um "déja vu". Os Estados Unidos ajudaram a esboçar o primeiro protocolo, de Kioto, mas não ratificaram o tratado, cujas obrigações expiram em 2012.
(Folha.com, 30/11/2010)