A taxa oficial de desmatamento da Amazônia em 2010 será a menor da história, mas o ritmo de queda caiu em relação ao ano anterior, contrariando expectativa do governo e projeções do sistema de alerta. O número a ser anunciado hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo apurou o Estado, ficará próximo de 6 mil quilômetros quadrados. A devastação medida equivale a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Entretanto, a cúpula do governo federal apostava que a taxa oficial deste ano seria ainda menor, ficando próxima de 5 mil quilômetros quadrados.
Essa expectativa mais otimista do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) era baseada em uma projeção do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse sistema apontou queda de 48% na ação das motosserras no período de coleta da taxa oficial, que foi de agosto de 2009 a julho de 2010, comparado ao período anterior equivalente.
A expectativa do governo foi frustrada por causa do agravamento de um fenômeno que os satélites do Inpe já vinham captando nos últimos anos, mesmo que em escala menor. O desmatamento na Amazônia mudou de padrão e se concentra cada vez mais em pequenas áreas - menores de 50 hectares ou 500 metros quadrados -, que não são alcançadas pelos satélites mais rápidos e menos precisos.
Essa nova lógica de destruição florestal teria por objetivo justamente escapar dos satélites do sistema de alerta ao desmatamento, que aciona a ação de fiscais. Em outras palavras, o objetivo do novo padrão de abate é driblar a fiscalização.
Apesar da expectativa frustrada em relação ao tamanho da queda do desmatamento em 2010, de cerca de 20% em relação ao ano anterior, a taxa deste ano ainda assim será a menor dos 23 anos da série histórica, desde que o Inpe passou a monitorar a ação das motosserras na Amazônia.
Em 2009, o governo já havia registrado um recorde, após obter uma redução de 42% do desmatamento. Em 2010, será o segundo recorde consecutivo.
O número representa também a retomada de uma tendência iniciada em 2004, de redução no ritmo da devastação da Amazônia, interrompida em 2008, em meio às pressões que levaram ao pedido de demissão da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Metas climáticas. Com o desmatamento próximo de 6 mil quilômetros quadrados, o governo se aproxima das metas de combate ao aquecimento global definidas no final do ano passado. Na ocasião, o governo se comprometeu a reduzir em 80% o ritmo das motosserras previsto para 2020, na Amazônia. Até lá, o desmatamento deverá ficar próximo de 4 mil quilômetros quadrados por ano.
A queda no ritmo de abate da floresta amazônica ainda é o principal trunfo no corte das emissões de gases de efeito estufa, e o resultado a ser anunciado hoje por Lula será motivo de ostentação na Conferência do Clima de Cancún, no México.
Os números registrados pelos satélites do Inpe mostram que o maior desafio do governo, além de manter o desmatamento da Amazônia sob controle e em queda, é conter o desmatamento do Cerrado, visto ainda como a principal fronteira para o agronegócio. No Cerrado, o ritmo de corte da vegetação nativa é mais acelerado e a meta é cortar o desmatamento ali em 40% até 2020.
Os Estados do Pará e de Mato Grosso ainda lideram o ranking dos que mais desmatam. Mas, em termos relativos, chama a atenção a movimentação das motosserras no Amazonas, único Estado em que o desmatamento cresceu entre agosto de 2009 e julho de 2010.
(Por Marta Salomon, O Estado de S.Paulo, 01/12/2010)