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2010-11-30 | Tatianaf

Pelo menos uma visita oficial da Presidenta Dilma Rousseff ao Rio Grande do Sul já pode ser prevista, antes mesmo da posse. Será em abril, quando começa a operar o primeiro grupo de 15 geradores da Usina Eólica do Cerro Chato, no município de Livramento, a primeira no pampa gaúcho.

A usina, que vai produzir 90 MW a partir do vento, é um dos projetos que merecem especial atenção da ex-ministra das Minas e Energia, responsável pelo programa de energia eólica no país. Sua inauguração estava prevista para o início de 2012, mas será antecipada.

A previsão é de que a primeira fase da Usina comece a produzir energia entre o final de abril e início de maio, antecipando em nove meses o calendário, desde o início das obras, em agosto deste ano.

Serão três parques eólicos, cada um com 15 aerogeradores de 108 metros de altura e capacidade para gerar 30 megawatts (MW), totalizando 90 MW.

A Eólica Cerro Chato S/A, responsável pela implantação, manutenção e operação da usina, é controlada pela Eletrosul Centrais Elétricas, subsidiária da Eletrobras, tendo como sócia a empresa Wobben, do grupo alemão Enercon, um dos principais fornecedores de tecnologia em aerogeradores. A estatal brasileira detém 90% dos R$ 400 milhões que estão sendo investidos no complexo.

No início de janeiro, começam a chegar ao município as torres e os aerogeradores. A conclusão dos três parques da usina está prevista para final de 2011 ou início de 2012, com contratos válidos por 20 anos e uma previsão anual de receita de R$ 38,9 milhões.

Mais de 300 trabalhadores estão envolvidos nas obras da Usina, a maioria na construção de estradas e acessos. Cerca de 90 operários estão construindo a subestação coletora que levará através de uma linha de transmissão a energia produzida até a rede da CEEE, em Livramento e, a partir daí, será distribuída para o sistema brasileiro. As duas principais terceirizadas são as empresas Santa Rita e a Arteche que, por sua vez, subcontrataram prestadoras de serviços.

Todos os trabalhadores passaram por um trabalho de conscientização ambiental, pois essa é uma área da região do Pampa em que se encontram muitas lebres, emas, tatus e até a temida cruzeira, devido à grande concentração de pedras no solo, além de uma rica flora, própria do bioma.

Os campos onde serão instalados os cataventos, distantes 30 quilômetros do centro da cidade, são utilizados principalmente para a atividade pecuária.

Apenas uma das 27 propriedades atingidas pelas obras da usina Cerro Chato cultiva arroz. São 19 proprietários, que receberão royalties sob o que será produzido por cada torre instalada em suas terras.

Calcula-se cerca de R$ 600,oo mensais por catavento. Cada propriedade terá entre um e três aerogeradores, com exceção de um campo que receberá 15 torres.

A Prefeitura de Livramento terá um acréscimo de pelo menos 5 % na receita de impostos.

Pólo Eólico no Pampa
Desde 2005 a Eletrosul realiza medições sistemáticas em Santana do Livramento, onde a estatal têm outro projeto eólico traçado, o Coxilha Negra, que deve disputar o leilão previsto para janeiro de 2011.

Caso o Coxilha Negra se concretize, com a instalação de 200 aerogeradores capazes de produzir 400 MW, essa região do pampa, a meio caminho de Quaraí, vai se tornar uma dos maiores pólos de geração de energia renovável produzida pelos ventos.

O projeto da Usina Cerro Chato foi contemplado no primeiro leilão de energia eólica, promovido em dezembro de 2009 pela Empresa Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Considerado um sucesso por especialistas e pelo Governo, o leilão confirmou as expectativas do Ministério de Minas e Energia quanto aos preços praticados e quantidade de energia contratada. O lance ofertado para a energia produzida no Cerro Chato foi de R$ 131,00 por megawatts/hora e representou um deságio de 31,7% – vencia quem oferecesse o menor preço.

O valor alto do megawatt/hora era um dos grandes empecilhos para que projetos de energia eólica participassem dos leilões do governo, que envolviam várias fontes de energia. Para se ter uma ideia, o preço do MWh de energia hídrica no Brasil é de R$ 70,oo, em média, enquanto o MW/h da eólica custava R$ 250,oo.

Mas esse valor pode ser mais baixo, uma vez que o potencial e a intensidade de ventos no Brasil são maiores que na Alemanha, por exemplo. Lá, se produz energia elétrica a partir de ventos de 5 a 6 metros por segundo, enquanto aqui são considerados de 6 a 9 m/s.

O expressivo número de projetos habilitados – 339 no total – sinaliza a abrangência que o setor deve conquistar nos próximos anos, principalmente com a entrada em operação de 71 novas usinas eólicas, que devem gerar juntas, pouco mais de 1.800MW ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Para o diretor de Engenharia da Eletrosul e especialista em energia eólica, Ronaldo Custódio, o preço de venda da energia oferecido pela estatal pode ser creditado a dois fatores: os investimentos que a Eletrosul vem realizando ao longo dos últimos quatro anos no estudo e desenvolvimento de projetos eólicos e a engenharia econômico-financeira da proposta comercial, “que vão resultar numa rentabilidade adequada e que contribuíram para tornar a nossa participação no certame mais atrativa”, explica o diretor.

Outro fator de diferenciação está na composição das torres que sustentarão os aerogeradores. “Ao contrário do usual, vamos utilizar concreto, produzido na região. Isso permitiu uma redução dos custos”. Segundo o diretor, esta tecnologia já vem sendo utilizada pela Enercon com sucesso em outros empreendimentos.

Ronaldo lembra ainda, que o número expressivo de projetos participantes garantiu uma disputa acirrada entre os proponentes. “Com a concorrência, a sociedade brasileira foi a grande vencedora, pois o leilão produziu tarifas mais adequadas para os consumidores”.

Com um litoral com mais de nove mil quilômetros de extensão, o Brasil apresenta condições ideais para aumentar a participação desta fonte renovável de energia na matriz energética brasileira.

Para o diretor, os ventos da região Nordeste são considerados os melhores, mas os da região Sul são mais constantes. “Outro fator positivo é que no Sul existem mais acessos de conexões à rede de energia elétrica, o que nos garantiu vantagem competitiva na formulação do preço”, completa o diriggente.

Maior crescimento
A energia eólica foi a que mais cresceu em 2009, segundo o balanço do Conselho Global de Energia Eólica, aumentando a capacidade instalada de 120,8 gigawatts (GW) para 157,9 GW em todo o mundo.

A China apresentou o maior crescimento, dobrando a sua capacidade, com mais 13 GW em 2009. Os Estados Unidos ainda tem a maior produção, com uma capacidade de 35 GW.

A eólica é a que mais cresce em relação a todas as outras fontes de energia. O mercado de turbinas movimentou, segundo o Conselho Global, 63 bilhões de dólares em 2009.

O Brasil também apresentou um crescimento acelerado, passando de 400 MW para 660 MW a capacidade instalada no país. A meta do governo é promover leilões anuais de compra para alcançar os 3 GW em 2012. Pesquisas estimam que o potencial eólico nacional chegue a 143 GW , mais de dez vezes o que é gerado pela Usina hidrelétrica de Itaipú.

(Por Cleber Dioni Tentardini, Jornal JÁ, 30/11/2010)


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