Dizem que a propaganda é a alma do negócio. A indústria do tabaco não poderia discordar, pois há menos de um século o hábito de fumar era estimulado por dentistas. Há 60 anos, estes mesmos profissionais tiveram a sua credibilidade usada pela indústria do alumínio e pelo governo norte-americano como argumento para a fluoretação das águas públicas.
As afirmações foram feitas pelo agrônomo e advogado Luiz Jacques Saldanha. Pesquisador do assunto, Saldanha ministrou, nesta semana, um curso sobre “Produtos de consumo e a eco-lavagem cerebral”, realizado no auditório da Fabico/UFRGS e promovido pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS).
A partir do trabalho do jornalista Christopher Bryson, correspondente da BBC nos Estados Unidos, e publicado no livro The fluoride deception, Saldanha apresentou o documentário feito com o mesmo título, de autoria do P.h. em Química da Universidade de Saint Laurence, nos Estados Unidos, Paul Connet. O jornalista dedicou dez anos a uma busca sobre a origem da fluoretação das águas, um tema que gerava controvérsia na época. Bryson apresentou documentos do Projeto Manhatan, do período da II Guerra Mundial, que foram liberados pelo governo norte-americano em 1998 e ligariam a origem da fluoretação da água pública à pesquisa nuclear. O flúor, segundo esta documentação, era um dos principais componentes da fabricação da bomba atômica.
Antecipando-se ao surgimento de processos judiciais feitos pelas comunidades vizinhas ao projeto e às indústrias que emitiam flúor na atmosfera a partir do seu processo de produção (como a do alumínio), como pudemos assistir no documentário, os cientistas envolvidos no Projeto Manhatan passaram a divulgar informações de que, se consumido em doses mínimas, o flúor seria inofensivo à saúde humana.
Isso, no entanto, não teria sido suficiente diante dos acontecimentos em fazendas vizinhas da indústria química E. I. DuPont de Nemours, que produzia a substância para uso do Projeto Manhatan em Deepwater, Nova Jersey. Os animais e as pessoas, conta Bryson, teriam apresentado problemas graves nos ossos desde a exposição aos vapores de fluoreto de hidrogênio. Tanto o projeto do governo norte-americano quanto a indústria foram processados por fazendeiros. A partir daí, como uma precaução do governo contra novos processos, relata o jornalista inglês, foi dada uma ordem para a realização de experimentos pela Universidade de Rochester para determinar o efeito tóxico do flúor. Estudos estes que alegavam que, em baixas doses, o flúor não seria maléfico.
Histórico
A primeira cidade a ter suas águas fluoretadas foi Grand Rapids, no Michigan, em 1945. De lá para cá, houve países do mundo inteiro que aderiram à iniciativa norte-americana e outros que, após a experiência, declinaram, como Bélgica, Alemanha, França e Austria. Cidades localizadas no estado norte-americano da Califórnia declinaram também da aplicação de flúor nas águas públicas. No Brasil, o Ministério da Saúde obriga através da Lei Federal 6.050, de 24/05/1974, a fluoretação das águas onde houver estação de tratamento. A aplicação deste gás que não se encontra só na natureza, mas combinado com outras substâncias, é a ultima etapa por que passa a água antes de ser distribuída à população.
Ainda conforme o divulgado por Bryson, o estudo do Dr. John Colquhoun, realizado em 1994, teria revelado a inexistência de qualquer benefício na prevenção das cáries de crianças na idade escolar. Pesquisamos na internet e descobrimos que, o portal do Movimento contra a Fluoretação das Águas de Abastecimento, mostra três projetos que estão no Congresso Nacional e que tentam vetar a fluoretação da água.
Quem frequenta consultório dentário deve lembrar que as principais recomendações de cuidado dos dentes incluem a correta e assídua escovação, uso do fio dental e consumo controlado do açúcar e carboidratos. E o flúor? A introdução no discurso odontológico foi feita por Edward Bernays, que antes de dirigir a campanha da fluoretação para o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, havia dirigido a campanha pela aprovação da área médica e odontológica do produto da Companhia Americana de Tabaco.
Como disse o nosso palestrante, “precisamos ter a informação”. Agora, a cada um cabe avançar neste conhecimento e compartilhar com todos. Deste modo, poderemos exercer a nossa cidadania com plena consciência.
(Por Eliege Fante, EcoAgência, 26/11/2010)