O setor industrial está consciente da importância de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, que causam mudanças climáticas, e vê oportunidades de crescimento econômico nas políticas de produção com baixa emissão de carbono. É o que disse a consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paula Bennati, ao participar, nesta quinta-feira (25), de audiência pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) para atender a requerimento da senadora Marina Silva (PV-AC).
Paula Bennati afirmou que a indústria está aliada à questão ambiental e que o setor reconhece a importância do seu papel em relação às políticas de baixo carbono. Portanto, disse a consultora, o segmento quer participar ativamente dos debates e apresentar propostas.
"A indústria se coloca à frente dessa questão hoje de uma maneira bastante proativa, inclusive porque a indústria entende que existe um leque de oportunidades que vem com essa economia de baixo carbono. É preciso gerenciar os riscos envolvidos, obviamente, e fazer uma defesa de interesses, é o papel da CNI. Mas estamos inaugurando uma nova era com relação à indústria", disse Paula Bennati.
Ela informou que a CNI elaborou um manual de estratégias corporativas de baixo carbono, para orientar as empresas a aproveitar as oportunidades.
A consultora também defendeu o reconhecimento em acordos internacionais da necessidade de redução de carbono na produção e destacou ainda a importância do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em sua avaliação, o Brasil é o país que mais desenvolve projetos, mas poderia apresentar melhores resultados se não houvesse indefinições na área. Para a especialista, os projetos de MDL podem contribuir com a promoção de transferência de tecnologia, que beneficiará a todos.
Desenvolvimento - Também o representante do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho, destacou a possibilidade de haver desenvolvimento econômico com a utilização de recursos renováveis e energia limpa. Ele observou que o governo e a indústria já entenderam esse novo modo de desenvolvimento, mas, em sua avaliação, o setor agropecuário ainda não compreendeu bem.
Ele afirmou que o Brasil é o único país que tem essa consciência e tem desenvolvido políticas com essa finalidade. Para ele, as medidas adotadas pelo país em suas políticas de crescimento econômico são fundamentais para determinar o rumo das negociações globais.
"Hoje, o que nós temos não é uma maneira de conciliar desenvolvimento com preservação ambiental. Esse tipo de dicotomia de tentar combinar uma coisa com outra está démodé, é passado. O que nós temos hoje é [a oportunidade de] fazer o desenvolvimento e o crescimento econômico, fazendo preservação e uso sustentável de recursos florestais e produzindo uma energia limpa", ressaltou Moutinho, ao lembrar que o Brasil, com isso, adquiriu responsabilidade mundial em relação ao tema.
Plano - Em relação ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas, Moutinho disse tratar-se de uma compilação de planos já existentes, o que não apresentou inovações nem gerou um "ponto de inflexão" em relação ao tema. Ele disse não ter havido consulta a toda a sociedade para elaboração do plano e pediu ao governo e ao Parlamento que promovam debates com a sociedade para aprimorá-lo antes da sua regulamentação.
Também o diretor executivo do Greenpeace-Brasil, Marcelo Furtado, disse considerar o Plano Nacional de Mudanças Climáticas "a consolidação de políticas já implantadas". Ele afirmou que nem a sociedade nem a CNI foram chamadas ao debate.
Para ele, atualmente, a sociedade civil está mais bem qualificada tecnicamente e poderá contribuir positivamente com a questão sócio-ambiental. Inúmeras organizações, informou, realizam pesquisas há muitos anos e, no entanto, não foram ouvidas. Para ele, o Brasil perde ao não ouvir a sociedade.
"Se o Senado entende que um país deve usar bem os seus recursos, gostaríamos de ter contribuído", disse Marcelo Furtado.
(Agência Senado, Jornal VS, 26/11/2010)