A conferência do clima de Cancún, que começa na próxima segunda-feira, deverá pôr em prática várias decisões tomadas na cúpula de Copenhague, no ano passado. Mas o principal assunto, a adoção de metas de redução de emissões, deve continuar ausente.
"Nada leva a crer que temos condições de concretizar o que não foi possível concretizar em Copenhague", afirmou o negociador-chefe do Brasil na área de clima, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
O contexto internacional para a adoção de metas ambiciosas -- e a consequente finalização de um acordo legalmente vinculante de proteção ao clima que vigore a partir de 2013 -- só ficou mais desfavorável desde Copenhague.
Os países desenvolvidos ainda não saíram da crise econômica, o que dificulta a adoção de medidas como o corte de emissões, que podem afetar alguns setores.
Outro fator crucial foi o naufrágio da lei americana de clima e energia no Senado, seguido da vitória dos republicanos nas eleições. A nova maioria na Câmara dos EUA não apenas é contrária à regulação das emissões pelo governo, como alguns dos deputados eleitos (entre eles o novo presidente da Casa) duvidam do aquecimento global.
"Você não cristaliza um mau momento", afirmou Figueiredo sobre a possibilidade de adoção de metas em Cancún. Segundo eles, o que se espera é uma sinalização dos países de que as metas serão aceitas.
Apesar de várias nações desenvolvidas e em desenvolvimento terem inscrito no Acordo de Copenhague o quanto pretendem cortar de suas emissões até 2020, ainda há debate sobre a forma como isso será feito.
Os países em desenvolvimento defendem uma segunda fase do Protocolo de Kyoto, o acordo existente hoje pelo qual os ricos se comprometem a cortar suas emissões. Vários países ricos têm tentado "matar" Kyoto e fechar um novo acordo, que inclua todas as nações (inclusive os EUA, que rejeitam o protocolo).
O G77, bloco de negociação que reúne as nações em desenvolvimento, já avisou que não permitirá que isso aconteça.
A Cancún resta iniciar a implementação dos pontos em que houve avanço em Copenhague, como um mecanismo de redução de emissões por desmatamento (Redd +), a criação de institutos internacionais de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de energia limpa e um mecanismo para financiar o combate à mudança climática nos países em desenvolvimento.
(Folha.com, 24/11/2010)