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conservação da biodiversidade Preservação Ambiental política ambiental brasil
2010-11-24 | Tatianaf

Se hoje falamos em biodiversidade, muito se deve ao biólogo americano Thomas Lovejoy, ou apenas Tom, como gosta de ser chamado. Lovejoy criou o termo "biodiversidade" na década de 1980, bem antes da Rio 92, a primeira conferência mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) que tratou especificamente dos problemas de biodiversidade e mudanças climáticas. O evento reuniu 175 países e desenvolveu a Agenda 21, uma base para que cada nação construísse seu próprio plano de preservação do meio ambiente.

Lovejoy hoje é o conselheiro-chefe de biodiversidade do Banco Mundial e orienta programas voltados para o meio ambiente. De gravata borboleta e falando um excelente português - Lovejoy trabalhou 45 anos na floresta amazônica - o biólogo veio ao Brasil para falar sobre a preservação das espécies e do meio ambiente na Conferência do Ano Internacional da Biodiversidade que ocorre nesta terça-feira, em São Paulo. Antes, conversou com o site de VEJA e explicou como e por que o Brasil poderá se tornar uma potência ambiental com um papel chave na preservação da biodiversidade mundial.

Trinta anos atrás o senhor fez uma projeção de que entre 10% e 20% dos animais estariam extintos até 2020. O senhor ainda acredita nisso?
Pode ser que demore mais, mas não muito. Se não mudarmos nossos hábitos, chegaremos lá. Mas não temos que seguir esse caminho.

O senhor acredita que estamos passando pela sexta maior extinção em massa da Terra?
Estamos no início do que poderia ser a sexta maior extinção em massa. Se continuarmos indo na direção que estamos, com certeza. Se olharmos os dados, todas as taxas de extinção estão cerca de 1.000 vezes maiores do que normalmente ocorreria.

O homem vai causar sua própria extinção?
Não, pois vivemos muito bem em condições miseráveis [risos]. Podemos dizer que a humanidade prospera onde a natureza floresce. E fizemos o experimento de mostrar o que acontece onde a natureza não floresce — o Haiti. O Haiti era a colônia mais rica da França na época da revolução americana. Seu valor era maior do que as treze colônias americanas juntas. É nessa direção que não devemos ir. Se acontecer com o mundo o que aconteceu com o Haiti, a extinção em massa já terá ocorrido.

Desde que o senhor cunhou o termo ‘biodiversidade’, muitas coisas aconteceram. O que mudou desde a década de 1980 até agora?
A biodiversidade foi elevada ao status de problema internacional. Em muitos países é uma prioridade nacional. A Rio 92 deu início a muitas medidas em todos os países. Em alguns países funcionou muito bem e em outros nem tanto. Demos passos importantes, mas ainda temos muito o que fazer.

Por que funcionou em alguns países e em outros não?
Primeiro porque é uma questão de cultura. É também um problema das instituições e dos recursos daquele país. É também uma dança política, que depende da vontade dos governos. Porém, não acho que em 1992 alguém imaginava que o mundo abrigaria tantas regiões protegidas como hoje. No entanto, muitas promessas foram feitas e nem todas cumpridas.

O que não funcionou na Eco 92 que não conseguiu impedir animais de serem ameaçados da extinção?
O maior fracasso foi a promessa de dinheiro. Na ocasião fizeram muitas promessas de recursos que não foram cumpridas. Tudo foi construído no sentido de arrecadar assistência financeira para os países em desenvolvimento. A história mostra que essas promessas não duram muito tempo.

O senhor acha que os países irão apontar culpados em 2012?
Isso pode acontecer. Mas o mais importante é o compromisso de alternativas aos recursos. A compra e venda de carbono é uma saída. Se houver um acordo com relação a isso, o recurso aparecerá. Não dependerá de votações complicadas nos governos de origem.

A preservação da biodiversidade está nas mãos de poucas pessoas, de seus representantes?
A resposta é sim e não. Se as pessoas escolhem seus representantes, o poder não está mais na mão deles. O maior problema na maioria das democracias é que as pessoas pensam que a natureza é legal mas não é necessária. E isso é errado. Não podemos considerar a natureza separada da humanidade.

Por que os objetivos que visam a salvar o meio ambiente levam décadas para serem atingidos? Por que as metas estão tão longe?
Creio que o problema começa por convencer as pessoas de que se trata de um grande problema. O que era um problema pequeno há 50 anos pode ser um grande problema hoje. É preciso fazer essa transição. As pessoas também são resistentes a mudanças. A maioria delas não tem consciência do impacto individual que cada uma tem no planeta. Temos a ilusão de que está tudo bem, mas não é bem assim. A poluição que emitimos hoje não será sentida por 30 anos. Mas desse modo estamos comprometendo o futuro.

Qual é o impacto individual de cada ser humano?
Todas as pessoas contribuem com uma quantia. Que tipo de energia e recursos naturais utilizam e em qual escala. Às vezes estou no avião e recebo um prato com frutos do mar. Isso nos faz pensar que aquele alimento representa um animal que um dia viveu no mar. As pessoas precisam perceber essa cadeia de acontecimentos que existe entre essas duas pontas.

Alguns cientistas dizem que a mudança do clima não ocorre por causa do homem. Eles argumentam que para avaliar o clima, precisamos levar em consideração escalas geológicas e não apenas dezenas de anos. Como o senhor enxerga essa argumentação?
Isso está errado por dois motivos. O primeiro é que a ciência climática é muito boa. Os modelos simula o comportamento do clima muito bem. Sabemos como era o tempo antes do ser humano. Sabemos que nos últimos 10.000 anos foi um período muito estável. Os ecossistemas se adaptam ao clima estável. Então, a ciência, nesse sentido, é forte. O segundo motivo é que o seu bem estar e o da sua família não se mede pela escala geológica.

Qual é o papel do Brasil no contexto da biodiversidade?
Acredito que o Brasil está em uma posição muito especial. Digo isso baseado na atuação do país em Nagoia. Foi o Brasil que ajudou o Japão a montar um acordo com que todos os países concordaram. Conseguimos acertar em proteger 10% de todas as áreas marinhas e reduzir pela metade a perda de habitats naturais. São coisas substanciais nas quais o Brasil desenvolveu um papel fundamental. Isso porque o Brasil é uma nação importante, com estabelecimento científico forte e uma opinião pública impressionante. O país está em posição de ser a ‘potência ambiental’. Se considerarmos o que o Brasil fez para proteger áreas nos 40 anos que estive aqui, é impressionante. Existia apenas uma floresta nacional. Hoje, 57% da Amazônia está sob algum tipo de proteção, federal ou estadual. Não é suficiente, mas saindo de zero até mais da metade — e a maior parte nos últimos 10 anos — é algo substancial.

O Brasil quer utilizar o petróleo do pré-sal para resolver problemas sociais. O senhor acha contraditório utilizar um combustível fóssil, não renovável, em uma era em que estamos discutindo soluções sustentáveis?
Eu sei que o mundo poderia parar de usar combustíveis fósseis hoje. Também sei que se isso acontecesse, seria o caos absoluto. Além disso, se quisermos que a Terra só aqueça mais dois graus teríamos que parar de emitir gás carbônico (CO2) até 2016. E isso não vai acontecer. Haverá um período de transição. Quanto mais curto ele for, mais fácil será lidar com as consequências. Temos que encontrar formas de retirar o CO2 da atmosfera. A boa notícia é que uma das formas se chama ‘biologia’. Talvez metade do CO2 da atmosfera veio do que fizemos com os ecossistemas, incluindo desflorestamento ou degradação de ambientes, e assim por diante. Talvez os 300 bilhões de toneladas de CO2 entraram na atmosfera dessa forma. Eu diria que podemos devolver grande parte disso com reflorestamento e reconstrução desses ecossistemas. Temos que pensar em uma escala mundial.

Como o senhor acha que o resultado da eleição presidencial no Brasil irá afetar as políticas do meio ambiente do país?
Depende de quem for colocado no Ministério do Meio Ambiente. Além disso, com boa ciência e com boa divulgação. Acho que será possível fazer a coisa certa. As boas políticas começaram há bastante tempo, desde antes do governo do Fernando Henrique, e felizmente os governos têm mantido as boas práticas. A nova geração de políticos que surgiu no Amazonas também contribuiu para o cenário otimista. Antes da COP15, os governadores da Amazônia enviaram uma carta ao presidente Lula sobre a venda de carbono e as florestas. Isso mudou a posição do Brasil em Copenhague.

O que o Brasil precisa fazer para proteger a biodiversidade da Amazônia?
Acredito que é preciso repensar os planos de integração e infraestrutura utilizando abordagens mais modernas. Isso também vale para o projeto de energia para o país. É preciso encontrar formas de fazer dinheiro vendendo carbono para o resto do mundo. Para que isso melhore a vida das pessoas sem ter que derrubar a floresta. Existe um fundo da Amazônia no BNDES que pode ficar maior facilmente. É preciso melhorar a fiscalização e os incentivos. É um problema grande pois é preciso vontade política a longo prazo. E no Brasil a vontade política é inconstante. Quando vejo o que o Brasil fez em Nagoia, vejo um dos maiores contribuidores. O Brasil ajudou remover os obstáculos para que os países agissem em Nagoia. O Brasil agora precisa saber administrar os próprios recursos e economia de modo a estabelecer-se como potência ambiental. O segredo da sustentabilidade depende da preservação dos sistemas biológicos, pois são todos renováveis se não forem extintos. Não somos muito bons em ganhar dinheiro com o meio ambiente, mas estamos aprendendo.

Qual é a mensagem que os brasileiros devem levar consigo para a preservação da natureza?
Eu diria que existe um motivo para a bandeira brasileira ser verde e amarela.

(Veja, 24/11/2010)


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