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política ambiental da colômbia emissões de gases-estufa
2010-11-23 | Tatianaf

A Colômbia, com 24 milhões de cabeças de gado, apresenta dois avanços para reduzir os 13% de gases causadores do efeito estufa que se atribui à indústria planetária de ruminantes. As palavras-chave: brachialactona e Lotus uliginosus. A brachialactona, um composto químico descoberto neste país andino nas raízes do pasto africano Brachiaria humidicola, dá a esta gramínea o atributo de evitar que o óxido nitroso, um poderoso gás-estufa, suba para a atmosfera.

Este composto é capaz de aumentar a fixação microbiana do nitrogênio atmosférico e também de inibir a nitrificação biológica, parte do ciclo natural do nitrogênio, o que definitivamente pode reduzir a contaminação de gases que estão causando o aquecimento global. Na sede mundial do famoso Centro Internacional para a Agricultura Tropical (Ciat), perto da cidade colombiana de Palmira, há cerca de 30 anos foi observado que a pastagem brachiaria inibia a nitrificação biológica.

O motivo não era conhecido, até que, este ano, os cientistas encontraram e caracterizaram a brachialactona, no Programa de Forragens Tropicais do Ciat, junto com seus colegas do Centro Internacional de Pesquisa para as Ciências Agrícolas e do Instituto Nacional de Pesquisa em Alimentos, ambos do Japão. A brachialactona é liberada em solos onde predomina a amônia, que desencadeia e mantém sua produção.

A América Latina tem cerca de 80 milhões de hectares de pastagem brachiaria. Por isso, o Ciat e seus associados estudam generalizar sistemas mistos de cultivos forrageiros e gado, dominados pela amônia e que incluam pastagens com capacidade moderada ou alta de inibir a nitrificação biológica. Assim, os pastos brachiaria poderiam ser a solução para uma pecuária sustentável e com impacto ecológico mínimo, disse em um comunicado o nutricionista de plantas do Ciat, Idupulapati Rao.

A alimentação com brachiaria na pequena pecuária do sudeste asiático teve sucesso, segundo o Ciat, que afirma que se trata de um pasto nutritivo e que agrada ao gado. Nos trópicos, onde não existem estações, a brachiaria é cultivada em áreas quentes e temperadas (de zero a 1.800 metros de altitude), disse ao Terramérica um cientista relacionado com a pecuária que não quis ser identificado.

É uma pastagem muito rústica, apta para solos de baixa e média fertilidade e resistente às inundações e à seca. Na Colômbia existem entre cem e duzentos tipos de brachiaria. Entretanto, segundo este especialista, não são desejáveis por serem agressivos colonizadores. Além disso, não é que o gado prefere estas pastagens, simplesmente as comem se não há mais nada. Contudo, admitiu que a descoberta da brachialactona terá “muita utilidade”.

De fato, a Federação Colombiana de Pecuarista (Fedegan) prefere a plantação de pastagens autóctones, que não necessitam ser replantadas e são muito mais resistentes a pragas e doenças. A Fedegan não se deu bem com a espécie humidicola, diz um documento desta associação de produtores ouvida pelo Terramérica. Em um teste de germinação de uma semana, brotaram apenas 3% das sementes de humidicola, contra uma média de 64% de outras cinco forrageiras, quatro delas brachiarias.

Se a humidicola é lenta para germinar, o Lotus uliginosus, uma pequena leguminosa usada também com forragem, é lenta para se expandir ou estabelecer-se em um pasto. A propriedade do Lotus é que reduz no intestino bovino a formação de metano, outro potente gás-estufa.

Assim demonstraram sucessivas pesquisas desenvolvidas durante 13 anos por 21 estudantes de zootecnia e quatro de mestrado em produção animal, dirigidos pelo professor Edgar Cárdenas, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Nacional da Colômbia. Seu trabalho de pesquisa climática se desenvolve em acordo com várias universidades, com a Massey University da Nova Zelândia.

“Uma vez estabelecido, o Lotus é uma planta perene que não necessita ser replantada. Precisa apenas de fertilizações mínimas, diferentes da fertilização com ureia, que tantos danos causa ao meio ambiente”, disse Edgar ao Terramérica. Este pasto neozelandês adapta-se bem a terras altas e frias dos Andes, entre dois mil e três mil metros de altitude. “Uruguai e Argentina têm um banco genético imenso de Lotus”, disse Edgar, especializado em meio ambiente e gases-estufa. Junto com o Paraguai, estes países possuem grandes extensões da leguminosa.

Ao ser ingerido pelo gado, o Lotus diminui radicalmente a eliminação de nitrogênio (gerador de óxido nitroso) pela urina e reduz a liberação de metano, própria da digestão dos ruminantes. A proteína do Lotus não se degrada, sendo absorvida pelo intestino do animal. As vacas produzem cinco litros de leite a mais por dia, e este apresenta “14% mais proteína e 11% mais gordura”, segundo Edgar.

O Lotus foi apresentado em sociedade em setembro, durante um dia de campo com mais de 600 pecuaristas em uma fazenda privada da savana de Bogotá. Os produtores “estavam emocionados”, recordou Edgar, “vendo os resultados da produção de leite. Ficaram maravilhados. A pergunta do milhão é quando vão querer adotá-la. Isso depende de cada pecuarista”

Os produtores dizem que esta pastagem, dependendo de como é semeada, demora entre seis e nove meses para se estabelecer, em comparação com os dois ou três meses de outras espécies. Edgar respondeu que “o imediatismo pecuário não os faz pensar de forma sustentável, mas de curto prazo. Todos querem para já”, o que não lhes permite ver que, com o Lótus, “podem reduzir a aplicação de fertilizantes nitrogenados” e economizar dinheiro no médio prazo.

Enquanto renovar as pastagens com raigrás (gramínea do gênero Lolium) custa US$ 675 por hectare, com o Lotus a despesa cai para US$ 512. A manutenção de uma pradaria mesclada com raigrás tem custo de US$ 2.920 por hectare, enquanto com Lotus é de apenas US$ 620, segundo Edgar. Contudo, o professor não gosta dessas contas pois, segundo disse, o x da questão é reduzir as emissões de gases-estufa, que também afetam o potencial exportador da pecuária. “Hoje, para poder exportar, os mercados internacionais impõem a restrição da pegada de carbono. Um produto com alta taxa de emissão de gases-estufa não é comprado no exterior e nunca exportaremos, porque nossa pecuária é alta emissora”, alertou.

(Por Constanza Vieira, Terramérica, Envolverde, 23/11/2010)


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