Puberdade e menopausa precoces, esterilidade... Médicos norte-americanos suspeitam que os produtos químicos, onipresentes em nosso ambiente, são a causa de vários problemas de saúde, sobretudo reprodutivos, e querem mudar a legislação.
"Tenho tratado milhares de pacientes (...), entre os quais homens jovens com uma taxa de espermatozóides muito abaixo da normal ou com câncer de testículos; mulheres jovens, de 17 anos, já na menopausa, e meninas pequenas com sinais de puberdade aos seis ou oito anos" de idade, enumerou na semana passada a médica Linda Giudice, durante entrevista a jornalistas.
"Cada vez há mais provas que mostram que contaminantes presentes no meio influem nestes problemas", disse Giudice, que chefia o departamento de obstetrícia e técnicas reprodutivas da Universidade da Califórnia, em San Francisco (EUA).
Junto com Tracey Woodruff, diretora do programa de saúde reprodutiva e ambiente da universidade, e Andy Igrejas, diretor da campanha da associação Safer Chemicals Healthy Families, Giudice faz um apelo à revisão da legislação americana sobre os produtos químicos, que data de 1976.
CONTROLE INSUFICIENTE
Segundo a associação, o ato de Controle de Substâncias Tóxicas (TSCA, na sigla em inglês) não é suficiente para impedir que os produtos químicos invadam os bens de consumo, mesmo quando existe uma relação comprovada com o aparecimento de câncer, asma, atrasos no aprendizado ou problemas reprodutivos.
De acordo com Giudice, a legislação não acompanhou a presença de produtos químicos no entorno, que se multiplicou por 20 desde 1945.
"Hoje, a exposição aos contaminantes está em todas as partes: no ar, na água, na comida, na bebida, nos cosméticos ou em artigos de farmácia, pesticidas, herbicidas e produtos cotidianos do lar", enumerou.
Alguns produtos foram proibidos há décadas, mas "permanecem na cadeia alimentar", explicou Woodruff. Outros estão presentes nos produtos de limpeza domésticos ou em outros produtos com os quais os consumidores têm contato diário.
Entre as mulheres estudadas, a grande maioria --cujos seios começaram a se desenvolver e tiveram a menarca (primeira menstruação) ainda muito jovens, algumas aos sete anos-- apresentaram um nível elevado de substâncias químicas no organismo.
Outros estudos já estabeleceram vínculos entre os produtos químicos e uma série de doenças, da asma ao câncer, passando por problemas cardiovasculares.
Um estudo publicado em setembro na revista "Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine", da Associação Médica americana, estabeleceu um vínculo entre taxas elevadas de colesterol nas crianças e um produto usado em antiaderentes por fabricantes de panelas e frigideiras para que a comida não grude.
Apesar de tantos indícios, em 34 anos de existência do ato TSCA, apenas cinco produtos químicos foram objeto de uma regulamentação e os projetos de lei apresentados este ano no Congresso para atualizá-la não tiveram continuidade, disse Igrejas.
(Folha.com, 23/11/2010)