Connie Hedegaard, de formação humanística, foi nomeada ministra do Meio Ambiente da Dinamarca em 2004, após exercer o jornalismo durante vários anos. Pertencente ao Partido Popular Conservador, ocupou em seu país as pastas de Cooperação Nórdica e de Clima e Energia. A atual comissária da Ação pelo Clima da União Europeia é uma militante apaixonada pelos assuntos ambientais, mas introduziu uma agenda carregada de realismo e de senso comum. Às vésperas de uma jornada sobre “viver sem carbono” organizada pela rede Atomium, e a duas semanas da Conferência Mundial do Clima de Cancún, Hedegaard analisa o difícil momento da luta contra as mudanças climáticas.
No último Conselho Europeu de outubro, a UE concordou em propôr em Cancún a criação de um marco mundial juridicamente vinculante que incorpore as contribuições políticas do acordo de Copenhague de 2009. A senhora acredita que isso é possível após o giro político pelos EUA?
Seria estupendo, mas acho que não conseguiremos um acordo vinculante em Cancún. Vemos que o Senado norte-americano não quis aprovar um avanço nesse campo. Em todo o caso, acho que não teremos uma reunião vazia de conteúdos. Devemos nos concentrar no substancial: alcançar acordos para deter o desmatamento mundial, por exemplo, e também concordar como ajudar os países em desenvolvimento a serem mais resistentes às mudanças climáticas, como podem estabelecer sistemas de aviso e de alarme diante de possíveis acontecimentos, assim como promover as tecnologias para sua adaptação.
Não acredita que a sociedade deveria ser mais levada em consideração?
Uma das minhas mensagens é propôr ideias muito práticas aos cidadãos para que decidam. Se cada família levar em consideração quão grande é a casa em que vive, como se transporta do seu domicílio ao trabalho e lhe são oferecidas informações para reduzir as emissões, por exemplo, em uma tonelada, então pode-se fazer muitas coisas. No fim, as coisas só mudam se as pessoas querem mudar sua mentalidade.
Como o novo orçamento europeu e a nova política irão influenciar sobre a coesão na luta contra as mudanças climáticas?
Queremos que os fundos de coesão sejam à prova das mudanças climáticas. Por exemplo, se a Europa dá dinheiro para construir uma estrada ou uma linha férrea, levaremos muito em conta o conhecimento que tenhamos sobre o possível aumento do nível das águas ou das chuvas. Antes de entregar o dinheiro, analisaremos se os projetos são respeitosos para com o clima.
A outra grande partida do gasto europeu é canalizada para a agricultura. Como a nova política irá afetar esses fundos?
Queremos condicionar os fundos à modernização e à inovação. Há muitas áreas em que os agricultores devem introduzir melhorias para que sua atuação tenha menos impacto no clima, evitar o uso de substâncias perigosas e empregar a energia de forma mais eficiente. Muitos agricultores desejam fazer essas melhorias, mas não lhes é permitido. Devemos ajudá-los.
((Por Andreu Missé, El País, tradução de Moisés Sbardelotto, IHU-Unisinos, Ecodebate, 22/11/2010)