Há um ano, em dezembro de 2009, o mundo assistia ao desfecho frustrado de uma das mais importantes conferências ambientais das Nações Unidas, a COP15, na cidade de Copenhague, Dinamarca. Idealizada como a reunião em que os países chegariam a um acordo global para controlar o aquecimento global, a conferência terminou em um cabo-de-guerra entre chefes de Estado cujos olhos estavam voltados unicamente para seus próprios interesses. O resultado foi a derrota do planeta.
É tempo de curar a ressaca, arregaçar as mangas e voltar ao trabalho. Afinal, as mudanças climáticas se tornam cada dia mais perigosas e a janela de oportunidade para controlá-las está se fechando. O palco desta vez será Cancun, no México, onde acontece a 16ª Conferência do Clima (COP16), entre 29 de novembro e 10 de dezembro.
A vergonha de Copenhague teve um impacto negativo por mais de um ano nas negociações. Em Cancun, não há expectativas de se obter um consenso sobre o que cada país deve fazer, como havia em Copenhague. Porém, ainda é preciso avançar e preparar terreno para um acordo global de redução do aumento da temperatura global.
“Mais um ano se passou, as temperaturas voltaram a bater recordes, as catástrofes naturais, como a intensa seca na Amazônia, batem à porta, relembrando que o aquecimento global é um problema sério e urgente”, diz Nicole Figueiredo, da campanha de Clima do Greenpeace .“Infelizmente, enquanto as negociações não caminham, as populações mais pobres já sofrem com o aquecimento global.”
O maior empecilho é a divisão de responsabilidades. Os países ricos precisam fazer mais, pois se desenvolveram às custas de muita emissão de gases do efeito estufa, principalmente para gerar energia. Já os países em desenvolvimento, especialmente os emergentes como China, Índia e Brasil, não podem se furtar de assumir metas de redução dessas emissões. Ainda que no passado tenha tido um papel menor no agravamento do efeito estufa, hoje a história é outra.
Outro problema que carece de solução é o destino do Protocolo de Kyoto, cujas metas vencem em 2012, pois alguns países que participam do protocolo não querem que ele seja mantido depois dessa data. Além disso, na COP16, os países ainda precisam detalhar como funcionará um fundo para aporte de recursos em mitigação (as ações que reduzem as emissões de gases-estufa), adaptação para os países em desenvolvimento já afetados pelos efeitos do aquecimento global e transferência de tecnologias limpas, das nações ricas para as pobres, para que possam crescer sem afetar tanto o ambiente. Todas essas questões precisam ser vistas em Cancun, para que o acordo se torne realidade o mais rápido possível.
O Greenpeace defende que os países participantes da COP16 assumam metas ambiciosas de redução de emissões, reconhecendo que um aquecimento em 2ºC é perigoso para a vida na Terra e que, para isto, o pico de emissões globais deve ser alcançado até 2015, começando a decair logo em seguida. Pede ainda pelo estabelecimento de um novo fundo para o clima, capaz de financiar pesquisa em inovação e medidas de adaptação e, por fim, demanda mecanismos de proteção de nossas florestas nativas.
(Greenpeace Brasil, 19/11/2010)