A Câmara Setorial Produtiva do Tabaco vai encaminhar documento ao governo pedindo alívio nas medidas de restrição tomadas em relação ao setor. O presidente do órgão consultivo, Romeu Schneider, disse que o tabaco é um importante item da pauta de exportação brasileira e um setor que arrecada alta quantia de impostos.
"A fumicultura deveria ser defendida pelo governo, em vez de ser perseguida, pois, entre empregos diretos e indiretos, [o setor] dá ocupação a 2,5 milhões de pessoas no Brasil". Segundo Schneider, "a fumicultura tem significado muito mais positivo do que negativo para o país". A câmara setorial do tabaco reuniu-se hoje para discutir questões relativas ao setor produtivo.
Os produtores vão encaminhar uma série de reivindicações à Casa Civil da Presidência da República, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Segundo Schneider, o tabaco gerou divisas de R$ 17,4 bilhões no ano passado e pagou R$ 8,5 bilhões de impostos no âmbito municipal, estadual e federal. O fumo, de acordo com ele, é a única cultura no Brasil que vende todos os estoques, ao contrário de produtos como o arroz, o feijão, o milho e a soja "que nem sempre têm preço e compradores quando chega a safra". Uma das queixas constantes dos fumicultores é quanto à indefinição do preço e a incerteza do valor da comercialização.
O presidente da câmara setorial avalia que as restrições em relação à fumicultura atingem, primeiramente, "a parte mais fraca - o produtor e o trabalhador - e, por último, a indústria, que não tem nenhum problema em mudar de ramo ou ir para outro país". Ele admite que os fumicultores possam deixar de trabalhar nessa área, mas, para isso, na sua opinião, deveriam ser estimulados pelo governo a optar por outra atividade igualmente rentável. Para Schneider, no entanto, o país "não pode relegar a segundo plano a posição de maior produtor mundial de tabaco".
A queixa vem também do presidente da Associação Brasileira dos Fumicultores (Afubra), Benício Werner, para quem a situação do fumilcultor brasileiro é melhor no mercado mundial do que "em relação ao seu país". Ele vê tendência de aumento do consumo internacional, principalmente na China, África e Ásia. O fator mais importante para isso, na sua visão, é o aumento da renda per capita das populações nesses países.
De acordo com a Afubra, o consumo de cigarros no Brasil caiu 25% em 2009 na comparação com 2008. Os 92 bilhões de cigarros consumidos atualmente por ano deverão cair, em 2014, para 70 bilhões, pelos cálculos da entidade, e o setor ainda é prejudicado pela desvalorização do dólar "que vai continuar reduzindo a rentabilidade do setor".
Para Werner, é difícil entender como o governo isenta de imposto os charutos importados e não oferece incentivos fiscais às fábricas brasileiras. "Creio que devamos mudar isso e passar a valorizar o que é nosso em detrimento das importações. Os produtores de charuto e tabaco também fazem parte do Estado brasileiro. São agricultores como quaisquer outros e, por isso, precisam ter sustentabilidade no seu negócio".
Schneider destacou que os charutos brasileiros têm grande aceitação no mercado internacional e algumas marcas estão avaliadas entre as melhores do mundo. No entanto, "a política adotada em relação ao charuto pelo governo faz com que sejam exportados, hoje, somente 5 milhões de unidades por ano, enquanto, há 50 anos, eram vendidos 140 milhões de charutos anualmente".
Os estados do Sul do Brasil produziram, na safra de 2009, quase 700 toneladas de tabaco, mas, de acordo com Schneider, a produtividade deverá ser menor este ano, caindo de 2.100 quilos para 1.700 quilos por hectare por causa de problemas climáticos, conforme o presidente da câmara setorial.
(Diário do Vale, 15/11/2010)