Se a União Europeia (UE) não rever de forma urgente seus planos de aumentar a produção de combustíveis orgânicos, haverá um enorme aumento das emissões de dióxido de carbono que agravará as consequências da mudança climática, afirmam especialistas. A ideia da UE para que os combustíveis de origem orgânica representem 20% do consumo total até 2020 é um grande erro, segundo estudo divulgado esta semana em Bruxelas pelo Instituto para Políticas Ambientais Europeias (IEEP).
Haverá consequências socioeconômicas e ambientais negativas. Também aumentarão as emissões de gases-estufa, pondo em risco a segurança alimentar e os postos de trabalho no setor agrícola, segundo o estudo do IEEP. O milho e demais cultivos básicos cederão lugar às palmas, entre outros, para produzir combustível orgânico nos países em desenvolvimento, especialmente na África.
A diretriz da União Europeia de abril de 2009 para “promover o uso de fontes de energia renováveis” tem o objetivo de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, como dióxido de carbono e metano, considerados pela maioria dos cientistas responsáveis pelo aquecimento global que acelera a mudança climática.
A norma diz que 10% da gasolina e do óleo combustível consumidos deverão ser de origem orgânica até 2020. As consequências sociais e ambientais da produção de combustível orgânico podem ser piores do que se prevê. A União Europeia deve revisar de maneira urgente as políticas de energia renováveis, conclui o estudo intitulado “Mudança indireta antecipada no uso da terra associado ao maior uso de biocombustíveis na UE”.
Para produzir a quantidade de combustível prevista será preciso limpar uma área que seja o dobro do tamanho da Bélgica, cerca de 69 mil quilômetros quadrados, colocando em perigo florestas e ecossistemas, prejudicando comunidades pobres. A mudança no uso da terra aumentará a quantidade de emissões contaminantes liberadas na atmosfera, alerta o informe.
“Mesmo que sejam consideradas as economias de emissões previstas nos requisitos de sustentabilidade da UE para os biocombustíveis, sua produção não ajuda a mitigar o problema” até 2020. O maior uso causará mais emissões, disse à IPS Catherine Bowyer, autora do informe. “Maior uso de biocombustíveis convencionais não pode, então, ser considerado uma contribuição aos objetivos da política de mudança climática da UE”, acrescentou.
Mesmo com a economia de emissões, entre 273 e 564 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono para o período 2011-2020, ou entre 27 e 56 milhões de toneladas ao ano, serão liberados mais gases-estufa devido à mudança no uso da terra, disse Catherine. “Será equivalente a ter entre 12 e 26 milhões a mais de veículos circulando na Europa em 2020”, ressaltou.
A segunda diretriz renovável da UE repercutirá em certo momento entre 80,5% e 167% de emissões, diz o informe. O documento da IEEP se baseou nos planos de ação nacionais em matéria de energias renováveis enviados por 16 membros do bloco à Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, que especificam como os Estados farão para cumprir a diretriz.
A Grã-Bretanha deverá importar 90% de seu consumo de biocombustível dos países em desenvolvimento, especialmente africanos. “Poderá haver aumento no preço dos alimentos na África devido à nova produção de biocombustíveis”, disse à IPS o porta-voz da ActionAid International, com sede em Bruxelas, Chris Coxon.
“Os pequenos agricultores, que costumam ser maioria nos países da África subsaariana e são responsáveis por alimentar suas comunidades, se deslocarão para os cultivos destinados a produzir combustíveis”, afirmou Chris. “A UE dá às empresas um cheque em branco para continuarem a usurpar terras dos setores mais pobres e produzir combustível para abastecer nossos tanques em lugar de alimentos para o estômago”, ressaltou. Envolverde/IPS
(Por Julio Godoy, IPS, Envolverde, 12/11/2010)