Os jovens "professores pardais" têm os pés no chão. Nada de reinventar a roda, bolar poções malucas, tentar viajar no tempo... Eles se preocupam com pequenas melhorias que podem fazer a diferença no dia a dia das pessoas. Pelo menos é o que mostra a 4.ª Feira Tecnológica do CentroPaula Souza, que acontece na Expo Barra Funda, zona oeste paulistana. Ali estão expostos 233 trabalhos, todos feitos por alunos das Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais paulistas.
Entre os 233 trabalhos expostos, alguns se destacam. Por exemplo, um curioso tijolo ecológico, feito com restos de couro. "Com ele, uma casa popular fica 27% mais barata", calcula Jefferson Aparecido Bueno, de 41 anos, um dos três autores do projeto, todos estudantes da Etec Dr. Júlio Cardoso, de Franca. A vocação econômica da cidade, conhecido polo calçadista, serviu como inspiração.
"Franca joga fora, todo mês, 1,5 mil toneladas de restos de couro. Vão para os aterros sanitários", comenta Jefferson, explicando a origem da matéria-prima. "Vivemos em um tempo em que uma política sustentável exige novos formatos de construção."
Os irmãos Julio Cesar Yoshimine, de 20 anos, e Pedro Cesar Yoshimine, de 22 – da Etec José Martimiano da Silva, de Ribeirão Preto –, também demostraram sensibilidade com as questões ambientais e tiveram uma excelente "sacada". Com uma calha metálica acoplada às hélices utilizadas em usinas de energia eólica, a força do vento é melhor aproveitada. "Isso faz o sistema gerar 50% mais de energia doque ocomum", garante Julio.
Problemas urbanos
É só o verão chegar que o paulistano jácomeça a temer pelas enchentes e outros problemas decorrentes da época. Foi sobre essa questão que os alunos da Etec de Presidente Venceslau se debruçaram. As soluções, apesar de óbvias, passam longe da realidade. "Coleta de lixo adequada, mais piscinões e permeabilização do solo", é a receita dada por Taitane Periscila da Silva, de 17 anos.
A consciência ambiental é corroborada pela turma da Etec Conselheiro Antônio Prado, de Campinas. A questão analisada: os cemitérios. "Concluímos que o necrochorume, resíduo decorrente da decomposição dos corpos, poderia ser transformado em gás para a geração de energia", diz Daniela Bueno Gomes de Melo, de 17 anos. "Infelizmente, isso não acontece no Estado de São Paulo. O único exemplo que conhecemos está em Curitiba", completa Fernanda Tudor, também de 17 anos.
(Por Edison Veiga, O Estado de S. Paulo, 12/11/2010)