A nanotecnologia, que trabalha com o desenvolvimento de produtos microscópicos, trouxe avanços científicos para áreas como a saúde e a indústria, mas também pode trazer riscos para as pessoas e o meio ambiente. Por isso, é necessário que se invista em pesquisas na chamada nanotoxicologia, isto é, nos riscos que os nanomateriais (produtos que medem apenas bilionésimos de centímetro) podem oferecer.
O alerta é do pesquisador em Nanotecnologias, Saúde e Ambiente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) William Waissmann.
— É preciso avaliar os riscos potenciais, os impactos, imaginando que esses riscos não são só para pessoas, mas também para o meio ambiente. O que vai acontecer quando aquilo entrar em desuso, quando se transformar em lixo? É absolutamente fundamental [avaliar os riscos] — disse.
Segundo o pesquisador, nos países desenvolvidos, por exemplo, o volume de financiamentos para o desenvolvimento de novos nanomateriais é até 40 vezes maior do que o montante de recursos destinados a pesquisas sobre o risco desses produtos.
Os materiais, ao serem manipulados para o uso na nanotecnologia, podem ter suas propriedades físicas alteradas. E isso gera dúvidas sobre os riscos que determinados nanomateriais podem oferecer, por exemplo, à pele e ao pulmão dos seres humanos, ou ao meio ambiente.
— O chumbo, por exemplo, foi usado durante todo o século 20 e só se percebeu o seu impacto depois de muito tempo — exemplificou Waissmann.
Apesar dos possíveis riscos que algumas substâncias podem oferecer, o pesquisador acredita que a nanotecnologia possa trazer muitos benefícios. Por isso, segundo ele, é necessário que, no Brasil, pesquisadores, governo e empresários discutam, juntos, a regulação do setor, o financiamento de estudos e a aplicação prática das pesquisas.
Waissmann explicou que, desde 2001, o Ministério da Ciência e Tecnologia financia pesquisas em nanotecnologia no país. Segundo ele, hoje o Brasil tem um número considerável de pesquisadores atuando em áreas como nanofármacos (medicamentos) e nanocosméticos.
No país, por exemplo, já há pesquisas avançadas sobre o uso de nanotecnologia no tratamento de câncer de pele não melanoma (tipo menos grave).
— Isso seria extremamente útil para o uso no Sistema Único de Saúde [SUS], por dois motivos: para o paciente, ele é de muito pouco risco, e o preço do procedimento não é alto — ressalta.
(AGÊNCIA BRASIL, Zero Hora, 12/11/2010)