No cenário de escassez de recursos naturais, cresce a importância de um nicho de mercado: a indústria de reciclagem. Para além do lucro financeiro, a reutilização de insumos é capaz de garantir o futuro do Planeta. "O lixo é, na verdade, um conjunto de matérias-primas de alto valor econômico", resume o economista e advogado Sabetai Calderoni, presidente do Instituto Brasil Ambiente - que presta consultoria a governos e empresas na área de resíduos sólidos.
Calderoni será um dos palestrantes do Seminário de Reciclagem e Meio Ambiente, que acontece de hoje até sexta-feira, dentro da programação da Recicla Nordeste2010, primeira feira do gênero na região, no Centro de Convenções Edson Queiroz. Pelos cálculos do especialista, um país como o Brasil descarta por dia algo em torno de 190 mil quilos de lixo doméstico e 270 mil quilos de entulho que poderiam gerar uma riqueza anual de US$ 10 bilhões se fossem reciclados. A natureza seria a primeira a agradecer.
Com números na ponta da língua, ele diz que, com reciclagem o País pode economizar de 62% a 71% no total de matéria-prima consumida atualmente. Suas ideias foram explicitadas no livro "Os bilhões perdidos no lixo", no qual detalha a utilização possível de matéria-primas recicladas, inclusive o potencial de geração de energia elétrica a partir de aterros sanitários.
Feira
De olho no crescimento deste mercado - sobretudo após a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece responsabilidade consorciada para a produção e destinação final de resíduos - , surgiu a ideia de criação da Recicla Nordeste. Disponibilizando área de 2.000 metros quadrados, no Centro de Convenções, o evento terá em sua programação exposições de equipamentos e produtos e também a realização de seminários, curso e workshop.
A exposição terá a participação de fabricantes de máquinas, periféricos e matérias-primas, além de empresas prestadoras de serviços e produtos para indústrias de reciclagem e transformação. Segundo a organização do evento, o público visitante deve chegar a dez mil pessoas, entre empresários e profissionais da cadeia de reciclagem, transformadores, cooperativas, agentes ecológicos, professores, pesquisadores, estudantes e representantes de ONGs.
Em paralelo à feira, será realizado o Seminário de Reciclagem e Meio Ambiente, com a participação de empresários e executivos de empresas consolidadas no mercado. O seminário abordará temas como a integração setorial e estímulo para o setor de reciclagem, a PNRS, o tratamento de resíduos e a alternativa da reciclagem energética, o panorama da gestão de resíduos no Brasil e no mundo, a solução para o lixo urbano e ainda a conscientização dos jovens para a prática de reciclar o lixo, dentre outros assuntos.
Potencial
"O setor de reciclagem possui grande potencial de expansão para as empresas que já atuam no mercado, assim como para a criação de novas micros e pequenas empresas com foco na geração de negócios, emprego e renda", avalia Marcos Augusto Albuquerque, presidente do Sindicato das Empresas de Reciclagem de Resíduos Sólidos Domésticos e Industriais no Estado do Ceará (Sindiverde), entidade que realiza a Recicla Nordeste, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), vinculado à Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Conforme Albuquerque, dados do Sindiverde apontam que o Ceará é o Estado brasileiro que, proporcionalmente ao número de habitantes, mais recicla. "São 211 empresas atuando na reutilização de plástico no Estado, movimentando cerca de R$ 39 milhões por mês e gerando cerca de 3.150 empregos diretos, para citar apenas um segmento".
Segundo o presidente do Sindiverde, a meta para esta primeira edição da feira é movimentar R$ 50 milhões em negócios. "Queremos promover a modernização das indústrias que integram o segmento, reunindo todos os atores da cadeia produtiva da reciclagem do plástico, ferro, vidro, eletroeletrônicos, madeira e água, entre outros", ressalta.
Ante o potencial da indústria de reciclagem, membros do Sindiverde e da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece) estão iniciando conversas para criar a Câmara Setorial de Reciclagem de Resíduos Sólidos do Estado. Assim como outras câmaras já existentes, esta seria um órgão consultivo, instrumento de interlocução entre o setor produtivo e o Governo cearense, vinculado à Adece, com a finalidade de apoiar e acompanhar projetos e ações, visando o desenvolvimento do setor.
(Por SAMIRA DE CASTRO, Diário do Nordeste, 10/11/2010)