O Governo alemão assinou um acordo com a Rússia para transporte de detritos nucleares da antiga central nuclear leste-alemã de Rossendorf para o centro atómico de Majak, nos Urais, noticia hoje o jornal Sueddetusche Zeitung.
Várias organizações ambientalistas, e o líder da oposição, o social democrata Sigmar Gabriel, ex-ministro do Ambiente, já criticaram a decisão. "Os detritos nuclares serão armazenados de acordo com parâmetros de segurança russos e não alemães, o que é irresponsável", disse Gabriel, em entrevista à televisão pública ARD.
A revelação surge no momento em que o transporte de resíduos nucleares de centrais alemães da estação de tratamento de La Hague, em França, para o depósito provisório de Gorleben, na Baixa-Saxónia, está a gerar fortes protestos de ambientalistas.
O comboio, que transportava 11 contentores com 123 toneladas de lixo radioactivo, foi bloqueado por milhares de manifestantes em vários pontos do percurso, nos últimos dois dias, e a chegada a Gorleben, prevista para domingo de manhã, tinha já um considerável atraso.
Na madrugada de hoje, a polícia teve de retirar de novo milhares de manifestantes que ocupavam a última parte do trajecto, os 20 quilómetros de estrada que separam Dannenberg de Gorleben, depois de os contentores terem sido colocados sobre camiões.
Activistas da organização ambientalista Greenpeace conseguiram bloquear a saída dos veículos com os detritos nucleares durante várias horas, prendendo-se com betão e aço a um camião que fizeram chegar à porta do terminal ferroviário.
Só às primeiras horas da manhã de hoje, a polícia conseguiu libertar os activistas e remover o camião, com recurso a martelos de pressão de ar e outras ferramentas pesadas, para partir o betão onde os militantes do Greenpeace tinham enfiado as duas pernas e um braço.
A caravana de contentores radioactivos tinha entretanto chegado a Gorleben, depois de percorrer os derradeiros quilómetros por estrada, sem registo de novos incidentes.
Os protestos contra o transporte de resíduos nucleares para Gorleben, que se realizam desde 1995, foram este ano os maiores de sempre, o que se deve ao facto de o Governo da chanceler Angela Merkel ter resolvido prorrogar por mais 12 anos, em média, o encerramento gradual das 17 centrais nucleares germânicas.
Os ambientalistas e a oposição social democrata e esquerdista acusam também o executivo de centro direita de quererem perpetuar Gorleben como depósito de resíduos nucleares e de não terem mandado realizar os necessários estudos geológicos para saber onde deve situar-se um depósito definitivo de lixo radioactivo.
Segundo especialistas na matéria, um depósito final deste tipo de resíduos tem de ter condições de segurança para um milhão de anos. Os 110 contentores com resíduos nucleares que passarão a estar em Gorleben, após concluído o novo transporte, deverão permanecer neste depósito entre 20 a 30 anos.
(JN.Sapo, 09/11/2010)