A Universidade de São Paulo capacitará catadores de materiais recicláveis para recolher resíduos de informática, possibilitando aumento da renda para essas pessoas, além de ajudar a preservar o meio ambiente. A iniciativa resulta de uma parceria entre o Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologia de Informação e Comunicação (LASSU), da Escola Politécnica, o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), do Centro de Computação Eletrônica (CCE), e o Instituto GEA-Ética e Meio Ambiente, organização não-governamental que trabalha com reciclagem, coleta seletiva e formação de cooperativas de catadores.
A parceria resultou no Projeto Segurança, Renda e Coleta de Lixo Eletrônico que foi um dos 113 contemplados pelo Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania 2010, entre as 5.183 propostas inscritas. A divulgação do resultado aconteceu no último dia 25 de outubro.
O projeto visa aumentar a renda dos catadores de materiais recicláveis da Capital e de municípios da região metropolitana (Diadema, Guarulhos, Mauá, Ribeirão Pires, São Bernardo do Campo, São Paulo), além de evitar que peças de informática sejam descartadas em locais inadequados, prejudicando a natureza. Para isso, os catadores receberão treinamento para selecionar peças de informática que tenham valor agregado.
"A ideia é ensinar aos catadores os cuidados que devem ser tomados ao recolher resíduos de informática como microcomputadores, impressoras, monitores e celulares", conta a professora Tereza Cristina Carvalho, assessora de Projetos Especiais da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI) da USP.
Ela explica que, muitas vezes, os catadores descartam da reciclagem componentes de microcomputadores, como placas, por exemplo, porque não sabem como tratar o material para que ele tenha valor comercial. "Essa placa pode então acabar em um lixão, e isso é bastante problemático, pois muitos desses materiais são poluentes", destaca Tereza Cristina. A presidente do Instituto GEA, Ana Maria Domingues Luz, completa: "Atualmente, quando os catadores recebem um microcomputador, a peça é considerada como sucata, pois eles não têm o conhecimento necessário para separar as peças com valor agregado."
Ana Maria informa que o projeto vai capacitar aqueles catadores de materiais recicláveis que trabalham em locais apropriados, e fazem parte de alguma cooperativa ou de algum grupo organizado. A previsão é que os treinamentos tenham duração de 30 dias para cada turma, sendo a parte teórica realizada no LASSU, em cerca de cinco dias, e o restante no Cedir, aproveitando a estrutura do lugar. A ideia é treinar dez catadores por vez e também abrir a possibilidade de vagas como ouvintes para representantes de ONGs ou associações, no treinamento teórico. Haverá 18 turmas com o objetivo de atender o maior número possível de cooperativas da capital e outros municípios vizinhos. O projeto prevê a concessão de auxilio refeição e transporte para o deslocamento dos catadores até a Cidade Universitária.
Troca de experiências
"Este projeto vai possibilitar uma troca de experiências muito interessante para ambos os lados. Em um extremo, teremos os catadores de recicláveis, pessoas de um estrato social mais baixo, com pouca escolaridade, sendo que muitos deles são analfabetos. No outro extremo, teremos a USP, uma referência em conhecimento científico", comenta Ana Maria.
O projeto terá duração de dois anos e espera-se treinar, durante este período, 180 pessoas. "Após o treinamento, esses profissionais irão levar o conhecimento adquirido para núcleos distribuídos pelos municípios da região metropolitana, ampliando o alcance da iniciativa. A perspectiva é criar 18 núcleos até o final do projeto e, com isso, estender os benefícios para cerca de dois mil catadores", destaca a presidente da ONG.
Segundo Ana Maria, esses núcleos serão equipados com bancadas apropriadas e ferramentas adequadas para a desmontagem correta das máquinas. "É um trabalho muito mais complexo do que reciclar latinhas", aponta. Após a separação das peças com valor agregado, elas serão vendidas e o dinheiro será dividido entre os integrantes da cooperativa. Também está previsto o acompanhamento do trabalho dos catadores por meio de visitas técnicas a esses núcleos.
O próximo passo do projeto é definir, juntamente com os professores do LASSU/Cedir, qual será o programa de aula e a metodologia de ensino. A professora Tereza Cristina lembra que a maioria dos catadores tem baixa escolaridade. "Essa condição vai exigir o uso de recursos alternativos, como imagens, para explicar conceitos básicos de eletrônica". Ana Maria conta que vai se reunir com as entidades representativas de catadores e com cooperativas para definir a lista de participantes dos cursos.
Segundo Tereza Cristina e Ana Maria, o contrato deverá ser assinado com a Petrobras no próximo mês de dezembro. A ideia é que as aulas comecem em abril de 2011. Os recursos destinados ao projeto são de cerca de R$ 800 mil, para um período de dois anos.
(USP, 08/11/2010)