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patagônia
2010-11-09 | Tatianaf

O vazamento de petróleo da British Petroleum (BP) no Golfo do México parece ter escaldada a Argentina, que decidiu duplicar a extensão de áreas preservadas no Mar Patagônio, rico em petróleo e biodiversidade. “O que nos mostrou o vazamento no Golfo do México (ocorrido em abril) é que mesmo as empresas mais modernas podem demorar meses para interromper a perda, e isso para nós seria fatal”, disse ao Terramérica o biólogo Santiago Krapovickas, coordenador do Fórum para a Conservação do Mar Patagônio e Áreas de Influência.

O ecossistema marinho patagônio, no extremo Sudoeste do Oceano Atlântico, abriga uma grande variedade de espécies de mamíferos e aves, bem como de moluscos e peixes de importância comercial. São mais de três milhões de quilômetros quadrados, e apenas 0,5% do Mar estava protegido, sem recursos reais e com um manejo pouco efetivo, segundo a “Síntese do Estado de Conservação do Mar Patagônio e Áreas de Influência”, publicado em 2008 pelo Fórum, que reúne dez organizações nacionais e internacionais.

Até agora, só existia um parque nacional marinho costeiro, o de Monte León, na província austral de Santa Cruz. Entretanto, no dia 27 de outubro, na cúpula da biodiversidade realizada em Nagoya, no Japão, a Administração de Parques Nacionais (APN) anunciou quatro novas áreas marinhas protegidas. São eles o Parque Marinho Costeiro Patagônia Austral, na província de Chubut e já em fase de implementação, dos parques Isla Pingüino e Makenke, em Santa Cruz, e um oceânico, o Parque Nacional Marinho Banco Burdwood, ao Sul das Ilhas Malvinas.

A aplicação e implementação das novas áreas consumirá de dois a cinco anos. As novas áreas deixarão 1.360.800 hectares de águas marinhas argentinas sob proteção, o que ainda está longe dos 10%, meta fixada para 2020 pelo Convênio sobre a Diversidade Biológica ao qual Buenos Aires aderiu em 1994. “Estamos bastante atrasados”, disse ao Terramérica Flavia Broffoni, da Fundação Vida Silvestre Argentina. “Com estes parques cobriremos 1,5%, que é o dobro do que tínhamos protegido”, afirmou. Não se trata de limitar ou restringir o uso dessas áreas, explicou, mas de dotá-las de ferramentas para um manejo que permita conservar sua diversidade biológica no longo prazo.

Para Santiago, é vital evitar a contaminação com hidrocarbonos, a pesca excessiva, a captura incidental de exemplares pequenos, e a pesca de arrasto. “O mar tem muito volume e, ao contrário do que ocorre nas áreas terrestres, os hectares de uma área protegida no mar são apenas um detalhe”, disse. Há milhões de metros cúbicos com muita vida, desde plantas microscópicas até grandes mamíferos, incluindo espécies de interesse pesqueiro como lula, lagosta, caranguejo, vieira e mexilhão, disse.

É “extremamente importante” preservar áreas onde as populações de valor econômico se recuperam, seguindo exemplos de sucesso como a reserva marinha De Hoop, na África do Sul, e a chilena reserva Punta del Lacho, no Pacífico. O parque Patagônia Austral é uma das áreas de maior biodiversidade do mar argentino. “É zona de criação de lagosta, merluza comum e, entre a fauna mais espetacular, tem os pinguins de Magalhães (Spheniscus magellanicus)”, destacou Santiago. Na extensão a ser conservada, de 132 mil hectares, que inclui 140 ilhotas, há golfinhos e colônias de cormorão imperial (Phalacrocorax atriceps), garajau real (Sterna maxima) e de bico amarelo (S. eurygnatha) e petrel gigante do sul (Macronectes giganteus).

O turismo “é muito pouco explorado, mas tem um enorme potencial” por sua paisagem de costa rochosa, mar intensamente azul e ilhas de fauna surpreendente, afirmou Santiago. Em Isla Pingüino, de 170 mil hectares de mar e ilhas, habita o pinguim de penacho amarelo (Eudyptes chrysocome), lobos marinhos, e diferentes espécies de golfinhos, como o golfinho de commerson (Cephalorhynchus commersonii). Também é uma região fundamental para a preservação de espécies comerciais. “Ali o mar é tormentoso e muito frio, mas altamente produtivo”, garantiu o biólogo.

Além do Parque Makenke, de 90 mil hectares e com numerosas espécies de pinguins e outras aves marinhas, o Banco Burdwood é uma área quase desconhecida, até agora parcialmente preservada por precaução. “Fica a leste da Ilha dos Estados, ao Sul do arquipélago das Malvinas, e a estimativa é de que abriga uma enorme variedade de invertebrados, esponjas, corais de águas frias, moluscos únicos e espécies novas”, contou Santiago. Entretanto, “não temos experiência neste tipo de controle tão afastado da costa, e será um verdadeiro desafio”, acrescentou.

Nessa área de bacias de gás e petróleo, parte das águas do Banco são disputadas por Argentina e Grã-Bretanha, no contexto do conflito pela soberania das Malvinas. “Se uma empresa como a BP demorou meses para controlar o vazamento no Golfo do México, se ocorresse isso em nosso mar não nos restaria outra alternativa a não ser nos resignarmos a perder irreversivelmente áreas sensíveis para a biodiversidade”, concluiu o biólogo.

* Este artigo é parte de uma série de reportagens sobre biodiversidade produzida por IPS, CGIAR/Bioversity International, IFEJ e Pnuma/CDB, membros da Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).

(Por Marcela Valente, Envolverde, 08/11/2010)


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