Às vésperas de inaugurar a termelétrica a carvão Candiota 3, de 350 MW, a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (Eletrobras CGTEE), que pertence ao grupo Eletrobras, já planeja a sua nova usina no mesmo município: a Fase D. O presidente da estatal, Sereno Chaise, salienta que o carvão é uma riqueza gaúcha, pois as maiores reservas do Brasil encontram-se no Estado. Para ele, a Eletrobras CGTEE é uma empresa federal, mas que interessa à economia do Rio Grande do Sul. E essa companhia, com o acréscimo da operação de Candiota 3, prevê para 2011 um faturamento de R$ 657,6 milhões.
JC Empresas & Negócios - Após a conclusão da termelétrica Candiota 3, quais serão os próximos projetos da Eletrobras CGTEE?
Sereno Chaise - Assim que inaugurarmos o complexo de Candiota 3 estaremos contratando o projeto básico para a nova usina, a fase D. Queremos já em janeiro entrar com o pedido de licença prévia no Ibama.
Empresas & Negócios - Qual será a capacidade de geração da fase D?
Chaise - Isso está em estudo. Eu queria duas máquinas de 350 MW. Acho importante padronizar. Mas, no momento, avalia-se que tem que ser duas de 300 MW, porque a água disponível só daria para atender a uma produção de 600 MW. Porém, a 18 quilômetros, em linha reta da usina, nasce o Jaguarão (arroio), não há mistério em trazer água nessa distância.
Empresas & Negócios - Como se dará a comercialização de energia dessa nova usina?
Chaise - Pode ser leilão. Mas o Uruguai tem a ânsia, a necessidade, de energia. Nós pensamos em duas máquinas até para a possibilidade de exportar energia para aquele país. Hoje, eles não precisariam mais do que 180 MW a 200 MW. Duas máquinas de 300 MW estariam perfeitas para atender a essa demanda.
Empresas & Negócios - Para a construção da fase D será mantida a parceria que foi feita com os empreendedores chineses na implantação de Candiota 3?
Chaise - Não sei, pode ser outra. Quero fazer uma consulta com a Eletrobras, por uma questão de preço.
Empresas & Negócios - Qual era a responsabilidade dos chineses na realização de Candiota 3?
Chaise- Os chineses entraram com o equipamento e o financiamento. O banco CDB (China Development Bank), o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) deles, entrou com o financiamento. E o Citic, que é uma espécie de Eletrobras chinesa, foi responsável pelos equipamentos e pela mão de obra que eles contrataram aqui.
Empresas & Negócios - Houve algum problema na relação com os chineses?
Chaise - Depois de tudo pronto, assinado, os chineses levaram 14 meses para mostrar o primeiro tostão. Não vamos iniciar uma nova obra sem o dinheiro estar à disposição.
Empresas & Negócios - Inicialmente, o contrato previa que Candiota 3 precisaria entregar sua geração de energia a partir de 1 de janeiro de 2010. Por que ocorreu o atraso da conclusão das obras?
Chaise - Em novembro do ano passado choveu o mês inteiro. Os levantamentos pluviométricos, que constam em processo que foi encaminhado para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), apontam que choveu na região cinco vezes mais do que o normal. Também houve uma greve nas empresas que trabalhavam na obra de 22 dias. Isso levou ao atraso da obra. Prevíamos a conclusão em 10 de junho, depois prorrogamos, ficou para 15 de setembro, agora a obra está pronta. Sabemos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer vir para inauguração, então estimamos que a solenidade acontecerá entre 15 e 20 de novembro. Dependerá da agenda do presidente.
Empresas & Negócios - Como o prazo do contrato não foi cumprido é possível a Eletrobras CGTEE sofrer alguma multa?
Chaise - A Aneel ampliou o nosso prazo. Era 1 de janeiro de 2010, desde o início. Agora, tem uma resolução da agência que diz que o prazo final para entrada em operação comercial é 1 de janeiro de 2011. Isso, internamente para empresa, é muito importante, pois nos livra de multa pelo atraso. Levamos um ano pleiteando essa questão.
Empresas & Negócios - No primeiro semestre deste ano, a Eletrobras CGTEE registrou um Ebtida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) negativo de R$ 40 milhões. A operação de Candiota 3 reverterá esse cenário a partir de 2011?
Chaise - Não vamos estar no vermelho a partir de 2011, em que pese que estaremos pagando o empréstimo da usina. Ela paga o custeio e sobra.
Empresas & Negócios - Para quanto saltará o consumo de carvão da Eletrobras CGTEE com a atividade da Candiota 3?
Chaise - Atualmente, o contrato está em 133 mil toneladas ao mês com a CRM (Companhia Riograndense de Mineração) e, entrando em operação Candiota 3, o acordo de fornecimento chegará a 250 mil toneladas mensais.
Empresas & Negócios - Com o apelo ambiental, o foco hoje está na geração de energias alternativas, como a eólica e a solar. O carvão não é malvisto nesse cenário?
Chaise - Antigamente, as usinas térmicas agrediam mais o meio ambiente. Naquela época, não existiam aparelhos, como os dessulfurizadores, para reduzir os impactos. Atualmente, a usina vem com equipamentos nos quais o carvão é tratado e são separados os que têm mais enxofre e impurezas.
Empresas & Negócios - Mas esses equipamentos encarecem a geração e não tiram a competitividade do carvão?
Chaise - O carvão é mais caro do que a água. Tudo bem que o ideal seria somente o uso de fontes renováveis. Mas, hoje, grande parte da energia produzida no mundo é oriunda do carvão. Vai levar séculos para abandonar essa fonte.
Empresas & Negócios - Qual a medida que a empresa pensa tomar em relação à antiga termelétrica de São Jerônimo?
Chaise - Estamos trazendo máquinas de Manaus, da Eletronorte, para São Jerônimo. Aquela usina está muito mal. Primeiro, ela está com quase 58 anos de funcionamento. Isso pode ir para o Guinness book. Ela polui? Polui. Ela é antieconômica, tem 39 funcionários para gerar em média 5 MW, é um absurdo. Então, como está não dá para continuar. Em janeiro os equipamentos chegarão ao Rio Grande do Sul. Essas máquinas foram fabricadas para funcionar com cavaco de madeira, mas são adaptáveis para operar com carvão. Hoje, em São Jerônimo, encontram-se uma máquina de 10 MW e duas de 5 MW. Os dois equipamentos que vêm terão uma capacidade de 25 MW cada um. Ou seja, aumenta-se a capacidade de geração, resolve-se o problema ambiental e não se tira da cidade os empregos gerados.
Empresas & Negócios - A operação da usina de São Jerônimo será a carvão?
Chaise - Estamos estudando ainda. Há a possibilidade de colocar uma máquina em operação a carvão e a outra com madeira.
Empresas & Negócios - Como está o desenvolvimento da ação que a Eletrobras CGTEE entrou contra o banco alemão KfW a respeito de fraudes em pretensos avais dados em nome da companhia a empresas privadas?
Chaise - Não tem nada resolvido, a questão ainda está em processo. Recentemente, o banco entrou com uma ação contra nós por danos morais. Acho que no ano que vem pode se ter uma posição mais clara sobre o assunto.
Empresas & Negócios - O que representa a eleição de Dilma Rousseff para o setor elétrico?
Chaise - Acho que não haverá grandes mudanças, pois é uma área que ela conhece muito bem. Hoje, a política do Ministério de Minas e Energia é a da diversificação das fontes de energia, o que acho correto. Se a gente controlasse a torneirinha da chuva, tivesse um convênio com São Pedro, tudo bem, usaríamos só hidrelétrica. Mas, quando dá uma seca, ficamos sem energia? Então eólica, biomassa e carvão são muito importantes.
(JC-RS, 08/11/2010)