Produzir com sustentabilidade virou palavra de ordem para a maioria das empresas. As companhias encontram nesse nicho uma alternativa para conter a série de mudanças climáticas, e, principalmente, um diferencial competitivo. No entanto, segundo consultores de mercado, o discurso muitas vezes fica longe da prática, e poucas se preocupam, de fato, com a natureza e seus colaboradores.
Mas enquanto grandes companhias que dizem desenvolver um processo de sustentabilidade não o cumprirem em todos os sentidos, alguns pequenos empresários têm dado um passo importante no caminho da economia sustentável e já vivenciam um real comprometimento com manutenção e bem-estar de clientes e colaboradores. Em meio a esse cenário, alguns consumidores também passam a dar preferência a empresas que reciclam produtos, cuidam da natureza, reutilizam matéria-prima em degradação e investem em processos que colaborem para a preservação do meio ambiente.
O foco no lucro, sob ações ecologicamente corretas, tem, inclusive, despertado ideias criativas entre profissionais que resolveram dar uma guinada em sua vida, e escolheram seguir essa linha de pensamento e ação - apesar da consciência de que o processo é lento e de que ainda há muito a fazer, iniciando pela conscientização de outras pessoas.
A partir do momento em que a mídia começou a falar da preocupação com o meio ambiente, a modelista Irene Joana Serafini decidiu se aprofundar no tema. Convidou a estilista Suzana Berni Gonçalves para investir em um negócio sustentável, e, há um ano, trabalham juntas criando roupas customizadas. O resultado são produtos gerados através da reutilização de tecidos, inspirados em moda alternativa. “Nossa filosofia de trabalho é a reciclagem. A forma de sustentabilidade que encontramos é de renovar peças o tempo que for possível, de acordo com a vida do tecido”, explica a modelista, ressaltando que uma roupa deixa de ser descartável, uma vez que seja sempre atualizada.
Irene garante que, economicamente, o negócio funciona bem, pois o processo de produção sai mais barato. “Além disso, os produtos que desenvolvemos fogem da massificação, a partir do momento que se permite ter mais autenticidade nos modelos”, destaca Suzana. “Percebemos que o público gosta de moda alternativa e personalizada – e que o fato de ser ecologicamente correto encanta”, completa.
Inspirada nas tendências do Rio de janeiro e São Paulo, mercados de onde emergem os lançamentos, a estilista garante que nada na loja fica demodê: a proposta do negócio é mesmo dar “cara nova” aos produtos que muitas vezes seriam descartados. “O cliente pode trazer sua própria peça de roupa para personalizar”, sugere. Na loja onde funciona o atelier, tudo é customizado. Ali, a sustentabilidade é, literalmente, a alma do negócio. “Nosso investimento foi baixo”, garante Suzana. As duas empresárias reaproveitam peças usadas e fabricam peças novas com os tecidos que compram de pontas de estoque, além de sobras de retalhos.
Couros, fitas, metais, pedrarias, linhas, aplicações do próprio tecido são a matéria-prima. O resto é criatividade. Isso permite que as roupas cheguem às prateleiras com preços até 50% mais baratos. Atualmente, elas expõem 180 peças customizadas na loja. “Está sendo bem aceito pela clientela. Sustentabilidade é o grande negócio do futuro”, acredita Irene. “Mas a gente observa que não são muitas as empresas que trabalham com esta proposta. Já ouvi acadêmicos e estudantes me dizendo que só teremos algum retorno a longo prazo, alegando que sustentabilidade é algo que só dará resultados daqui há muitos anos”, lamenta a modelista.
Consumidores conscientes são fundamentais
Sustentabilidade, além de ser uma exigência do mercado, é coisa séria. O conferencista e consultor de empresas na área de desenvolvimento de competências e lideranças Gilberto Wiesel ressalta a importância da busca das novas gerações por produtos que não prejudiquem o meio ambiente. “A moda, hoje em dia, é ser uma empresa sustentável. Exatamente por isso surgem os greenwashers - ou falsos ecológicos corporativos -, que enganam os clientes dizendo-se ecologicamente corretos e acabam por diminuir a credibilidade de seus produtos”, teoriza Wiesel. Ele dá a dica de como distinguir marcas que embarcaram nesta atitude. “O consumidor tem que estar atento ao que a companhia comunica e o que ela realmente faz. As redes sociais ajudam nisso, e é papel do consumidor confrontar estas informações.”
O consultor destaca que toda empresa sustentável passa por processo de ISO 14.000 e que o certificado, em geral, vem nas etiquetas. “Existem cinco ou seis tipos de etiquetas que informam se a empresa é licenciada e participa de processo sustentável, sendo assim controlada por órgãos responsáveis pela fiscalização”, explica. Ele ressalta que, no futuro, os consumidores serão muito mais exigentes. “Atualmente, as crianças já aprendem sobre sustentabilidade desde que nascem, e irão para o mercado procurar produtos que valorizem este processo”.
A jornalista Marianna Senderowicz, sócia-proprietária da Própria Comunicação, empresa de produção de conteúdo, integra a turma de consumidores conscientes, que, ao escolherem determinado tipo de produto ou serviço, fazem sua parte em prol da sustentabilidade. Ela utiliza serviços de bike boy com fre-quência, para isso, se programa com antecedência para solicitar as entregas e garantir que cheguem em tempo hábil. “Acredito que, além de ser ecologicamente correto, incentivar este tipo de negócio é dar também uma oportunidade de emprego para o pessoal mais jovem, que está se inserindo no mercado de trabalho”, opina.
Mas a busca pela sustentabilidade não para aí: a rotina da equipe da Própria Comunicação envolve outras práticas, como otimizar o uso do carro, concentrando reuniões em um mesmo dia, utilizar papel reciclado, economizar na impressão de documentos, separar o lixo, racionalizar energia elétrica e, fora da empresa, realizar trabalho voluntário com animais de rua. “Além disso, procuramos prospectar clientes com perfil ambiental e social”, ressalta a jornalista.
Entrega sobre rodas, mas sem poluição
Seguindo os preceitos de sustentabilidade, a Pedal Express é uma alternativa para entregas rápidas, com menor custo-benefício e sem poluir o meio ambiente. O estilo é baseado no modelo utilizado em países de primeiro mundo: bikeboys - ou ciclistas que fazem entregas usando a bicicleta como meio de transporte - substituem os motoboys. Mais do que garantir economia e colaborar com o meio ambiente, a ideia incentiva a prática de esporte como opção de renda.
“Buscamos e entregamos documentos, pacotes, tubos, caixas e tudo o que couber em nossas mochilas”, resume Marcos Ritter Rodrigues, sócio da empresa, que, desde março, atende à área central da Capital. Contando com uma equipe enxuta, de quatro bikeboys, a Pedal Express realiza uma média de 40 entregas por dia. O investimento pequeno, de cada um dos sócios, foi necessário apenas para pagar a aquisição dos uniformes e bicicletas. “O retorno ainda é pouco, mas estamos inserindo a cultura”, avalia Rodrigues. Segundo ele, a empresa já conta com uma carta de 60 clientes fixos, que utilizam exclusivamente os serviços de entrega.
Economia de água e de geração de resíduos
Em meio a tantas opções de produtos e serviços no mercado, muitos consumidores já perceberam que a melhor alternativa é escolher negócios que utilizem o mínimo de recursos naturais. Com este pensamento, Leonardo Mejler, diretor da Carwash Prime, está lançando nesta semana a Car Wash Prime. A empresa é especializada em lavagem automotiva, com a utilização de produtos biodegradáveis e apenas 300 ml de água, em média, por carro (de passeio). Os panos de limpeza são feitos de microfibras e podem ser reutilizados até 300 vezes. “Nosso serviço tem um apelo sustentável forte, pois economiza água e se preocupa em evitar a geração de resíduos”, diz o executivo, que administrará uma equipe de dez pessoas, ao lado do sócio Walter Katz Neto.
Além da questão sustentável, a Car Wash Prime tem outro diferencial: os profissionais se deslocam até o cliente para realizar o serviço. O foco é atender a frotas, em grandes empresas, condomínios, estacionamentos de faculdades ou shopping centers onde os carros ficam parados boa parte do tempo. “Enquanto o cliente trabalha, lavamos o carro dele. A única estrutura que precisamos é de uma tomada”, resume Mejler, destacando que esta é uma forma de otimizar o tempo do usuário, que não precisará deixar de curtir um final de semana, por exemplo, para se deslocar à lavagem de carros.
Com a garantia de preços semelhantes aos das empresas tradicionais, o serviço de lavagem ecológica pretende atender a Porto Alegre e Região Metropolitana, através de agendamentos. O negócio teve investimento médio e demandou seis meses de trabalho para sair do papel. “Buscamos ideias, e participamos de um treinamento em São Paulo”, conta o administrador.
(JC-RS, 08/11/2010)