“Nossos rios estão morrendo a cada dia”. A afirmação é da Organização Não Governamental (ONG) Mãe Natureza - Movimento de Amparo Ecológico de Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru) - que, na tarde de ontem, apresentou um estudo científico para mostrar que a quantidade de nutrientes nos rios está aumentando de modo alarmante e a causa seria uma deficiência estrutural nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE).
Segundo o presidente da ONG, Hélio Palmesan, o aumento dos nutrientes, especialmente o fósforo - contido na fórmula do sabão e que existe em bastante quantidade dos esgotos -, provoca um efeito em cadeia que culmina no que ele considera “a morte dos rios”.
“O fósforo alimenta as algas cianofíceas, que formam uma espécie de camada sobre a água. Com isso, a luz solar não entra e o plâncton não se desenvolve. Esse plâncton é o alimento dos peixes e, por isso, eles acabam morrendo”, explica.
O presidente informa que esse problema não era para acontecer, visto que os governos estão investindo bastante na construção de ETEs. Porém, quando o fato foi analisado, verificou-se uma deficiência estrutural nas estações e, assim, a remoção dos nutrientes não é feita de forma eficaz e completa.
“As estações precisam fazer três tratamentos na água, mas só só fazem a primeira e a segunda. A terceira, que é a que retira cerca de 90% do fósforo e outros nitratos, não é realizada. Acredito que o motivo disso acontecer seja orçamentário”
Ainda de acordo com Palmesan, as ETEs que não realizam a terceira etapa do tratamento são uma constante em todo o País. “No Brasil, existem aproximadamente 1.700 estações e somente uma, localizada em Brasília, faz o terceiro tratamento. Isso atinge de forma impactante todos os rios do País”, denuncia.
Ele explica também que, após a ONG comprovar os prováveis efeitos dessa deficiência, a próxima etapa agora é questionar os governos - tanto estaduais quanto federais - para descobrir quais os motivos dessa estrutura considerada deficitária.
Outro questionamento importante é se, ao menos, foi deixado um espaço físico em cada ETE para que uma construção futura possa ser realizada e, com isso, possibilite o terceiro tratamento.
Aliado a isso, Palmesan afirma que é necessário ainda a fiscalização e imposição de normas mais rígidas para reduzir o nível de fósforo contido nas fórmulas do sabão e, consequentemente, amenizar essa cadeia, conhecida como eutrofização.
Além dos prejuízos citados para a fauna marinha, o presidente Hélio Palmesan alerta para perigo que o problema pode ocasionar à população. “Se a pessoa consumir a água com essas algas cianofíceas, pode haver sérios danos ao fígado e até mesmo atingir o sistema neurológico. É um grave perigo à saúde humana também”, conclui o presidente da ONG Mãe Natureza.
(JC Net, 07/11/2010)