O desmatamento desenfreado tem deixado a Paraíba numa situação desconfortável quando se fala em preservação ambiental. O estado tem hoje, de acordo com o mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 657 mil hectares do bioma, o que corresponde a 6.578 quilômetros quadrados ou 11,66% de toda a cobertura nativa. Imagens aéreas feitas pela Secretaria de Meio Ambiente (Semam) mostram que, nos últimos dois anos, o desmatamento aumentou na capital João Pessoa, na conferência da Eco-92, da ONU, como a segunda cidade mais verde do mundo - posto abaixo apenas de Paris. Dados da rede SOS Mata Atlântica apontam para uma situação ainda preocupante: restariam, na Paraíba, somente 0,004% de cobertura.
Os números negativos relacionados à preservação da Mata Atlântica chamaram a atenção de especialistas que se reuniram, na cidade, para discutir o problema e buscar meios de zelar pela natureza. João Pessoa vai ganhar o Plano de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, que deverá ser colocado em prática no início de 2011. A Semam em parceria com a organização não-governamental SOS Mata Atlântica, está elaborando o documento.
Especialistas da Divisão de Estudos e Pesquisas da Semam sobrevoaram a cidade de João Pessoa e fizeram um registro fotográfico das áreas remanescentes e degradadas da vegetação. O geógrafo e diretor da Divisão de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Meio Ambiente (Semam), Euzivan Lemos, explicou que um dos motivos para a redução da área verde foi a construção de um Centro de Convenções. "Temos uma base cartográfica de 2008 e mapeamos as imagens de satélite que apontavam para a área verde. Com esta nova avaliação, a meta é verificar se houve devastação neste período. Ainda estamos quantificando, observando a tipologia vegetal para nos aproximarmos o máximo possível da realidade", disse.
Entre as áreas remanescentes observadas pela equipe estão o Altiplano, bacia do Rio Cabelo, Jacarapé, Cuiá e os manguezais. Para os pontos degradados, há um plano de recuperação em alguns trechos estratégicos. Cerca de 14 áreas são prioritárias, a exemplo daquelas onde há exploração mineral, como Roger e Altiplano. "Vamos sugerir, inclusive, áreas que têm potencial para expansão urbana, deixando livres aquelas que sofrem maior pressão imobiliária e que são de preservação. A ideia é definir conectividade, relevância biológica e extensão", acrescentou Lemos.
Foi definido um conjunto de estratégias e ações de acordo com as características de cada local, que resultarão no Plano de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica. Ele prevê, entre outras iniciativas, a recuperação do bioma. A versão preliminar foi encaminhada para o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam). Técnicos de várias instituições, entre elas, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) participaram da avaliação, mas, antes mesmo da concretização do plano, algumas ações já estão sendo realizadas. A desapropriação das terras de Cuiá, por exemplo, foi, na verdade, uma negociação entre a Prefeitura de João Pessoa com o proprietário, segundo esclareceu o geógrafo. As terras foram compradas pelo município e farão parte do Parque Natural Municipal Cuiá, uma área de conservação rica em fauna e recursos naturais.
(Por Lucilene Meireles, Diário de Pernambuco, 03/11/2010)