Um quinto dos vertebrados do mundo – seis milhões de formas de vida insubstituíveis – está ameaçado de extinção, conforme estudo apresentado na 10ª Conferência das Partes (COP 10) do Convênio sobre Diversidade Biológica. Desmatamento, expansão agrícola, pesca excessiva, espécies exóticas invasoras e a mudança climática são causas específicas, mas o principal motor de destruição é um sistema econômico cego para a realidade de que sem natureza não existe economia ou bem-estar humano, afirmam os especialistas.
“Sem esforços mundiais de conservação, a situação será muito pior, disse Simon Stuart, presidente da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) na apresentação do informe, no dia 28, nesta cidade japonesa. O estudo é a avaliação mais exaustiva sobre os vertebrados do mundo – mamíferos, pássaros, anfíbios, répteis e peixes –, publicada no mesmo dia na revista especializada Science, disse Simon.
Anualmente, 52 espécies de mamíferos, aves e anfíbios avançam entre um e três passos no caminho para o desaparecimento, segundo o estudo, que utilizou dados de 25 mil espécies da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN. O sudeste da Ásia sofreu as perdas mais drásticas dos últimos tempos, devido, principalmente, aos cultivos de exportação como a palma, bem como à extração comercial de madeiras nobres, conversão de terras silvestres em arrozais e caça insustentável, concluiu a pesquisa.
Algumas áreas da América Central, os Andes tropicais e inclusive a Austrália também registram perdas importantes, em particular devido ao impacto do mortal fungo chytrid nos anfíbios. “Está havendo erosão na coluna vertebral da biodiversidade”, disse o destacado ecologista e escritor norte-americano Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard. “Um pequeno passo para o topo da Lista Vermelha é um salto gigante para a extinção. Esta é apenas uma pequena janela para as perdas mundiais que estão ocorrendo”, afirmou Edward em um comunicado.
A palavra biodiversidade, mais conhecida como natureza, se refere a plantas, animais e micro-organismos e aos seus ecossistemas, que proporcionam à humanidade alimentos, remédios, água e ar, abrigo e um ambiente saudável para viver. “A coluna vertebral da natureza está efetivamente em risco”, disse Julia Marton-Lefèvre, diretora-geral da UICN, que em uma entrevista coletiva em Nagoya destacou que um terço de todas as espécies estão ameaçadas. A Perspectiva Mundial sobre a Biodiversidade 3, ou GBO 3, apresentada em maio, concluiu que um quarto das espécies vegetais está ameaçado, os corais e os anfíbios do planeta estão em grave declínio e a quantidade de vertebrados diminuiu um terço nos últimos 30 anos.
Apesar deste panorama, é muito improvável que a União Europeia (UE) destine à proteção da biodiversidade mais dinheiro além do US$ 1,4 bilhão prometido em setembro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, disse à IPS o legislador alemão Jo Leinen. “Estamos reduzindo nossos orçamentos, por isso será difícil oferecer fundos adicionais aqui”, disse Jo, que encabeçou a delegação de europarlamentares em Nagoya.
Jo preside o Comitê de Meio Ambiente do Parlamento Europeu e dirigiu uma sessão sobre selvas no fórum realizado em Nagoya pela Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe). O grupo pediu à UE que assuma urgentes compromissos de longo prazo para que os fundos estejam disponíveis a cada ano ao longo da próxima década, afirmou Jo. O Japão prometeu US$ 2 bilhões no prazo de três anos.
Segundo a UICN, o financiamento público e privado para conservar a biodiversidade deveria passar dos atuais US$ 3 bilhões anuais para US$ 300 bilhões. Não surpreende que este assunto seja um dos mais espinhosos para se chegar a um acordo antes do término da COP 10 no Japão. O fato de mais de cem ministros de Meio Ambiente terem chegado a Nagoya não é necessariamente esperançoso, pois a maioria está abaixo, na hierarquia ministerial, de seus colegas de Economia ou Finanças. Inclusive o presidente do Banco Mundial (BM), Robert Zoellick, reconheceu esta realidade na abertura do segmento ministerial da COP 10.
“A biodiversidade não é um acessório. Preservar ecossistemas e salvar espécies não são luxos para os ricos. A conservação e o desenvolvimento podem seguir juntos. Nosso hábitat e nosso planeta não merecem menos”, disse aos delegados o presidente do BM. O Banco Mundial dedicará esforços para financiar a proteção “dos serviços dos ecossistemas e a biodiversidade”, anunciou.
O BM espera que a conservação da biodiversidade seja incorporada a planos de crescimento econômico, infraestrutura e superação da pobreza. Para isso, lançou ontem uma nova associação mundial para ajudar os governos a integrarem o valor da biodiversidade e dos serviços da natureza às suas contas nacionais e aos seus planos de desenvolvimento. “A conservação funciona”, disse Simon. Nos últimos anos, impediu-se a extinção do rinoceronte branco e de outras 63 espécies, observou.
O estudo publicado na Science mostra que a perda de espécies se acentuou pela falta de medidas para evitá-la, que o desafio é proteger as espécies e os ecossistemas, enquanto são protegidos e potencializados os meios de vida das populações locais, reconheceu Simon.
(Por Stephen Leahy, IPS, Envolverde, 29/10/2010)