O consultor ambiental Johan Put da empresa belgaholandesa Enviro Challenger, esteve no local da demolição do estádio Verdão e se disse estarrecido com o descuido com que os materiais da demolição estão sendo tratados, ou não tratados. Johan Put é especialista em reaproveitamento de materiais de demolição e dentre outras, prestou consultoria à Caemge no processo de demolição da boate Help, na Av. Atlântica em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde quase 100% dos resíduos da obra foram reaproveitados.
A preocupação dele é relacionada à saúde pública. A demolição do estádio foi feita sem uma análise prévia dos materiais existentes na obra e, também, sem a respectiva separação dos materiais com potencial risco à saúde humana. Em sua visita ao Verdão, Johan verificou que no material demolido estavam misturados materiais como concreto, argamassa e amianto (também chamado de asbesto).
O uso do amianto foi banido de diversos países (EUA, toda a Europa, etc.) desde que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1986, editou a “Convenção 162″, que trata de um conjunto de regulamentações para o uso do amianto nas áreas de mineração, nas indústrias de processamento e transformação do minério. No Brasil em alguns estados brasileiros, como SP, legislação proíbe o uso do amianto devido aos danos potenciais à saúde. Na Câmara Federal tramita um projeto de lei que proíbe o uso.
A exposição ao amianto está relacionada à ocorrência de diversas patologias, malignas e não malignas. Ele é classificado pela Agência Internacional de Pesquisa (IARC) no grupo 1 – os dos reconhecidamente cancerígenos para os seres humanos, segundo estudo do Instituto Nacional do Câncer – Inca. É essa a preocupação do consultor Johan Put, segundo ele, o amianto pode estar sendo liberado no ar em função da demolição sem critérios e sem os cuidados necessários.
Johan observou que no processo de demolição houve mistura do amianto com argamassa e concreto e, agora, no local, a empresa responsável pela obra está pegando esse material misturado e passando por um britador, para triturá-lo em pequenos pedaços que serão reaproveitados na própria obra. A operação de britagem é feita por impacto mecânico, o qual gera muita poeira, cuja concentração de amianto é desconhecida, colocando em risco os operários da obra e a população de Cuiabá. (leia aqui o manual para demolição em obras com amianto)
A empreiteira da obra já foi alertada há mais de 2 semanas, mas segundo o consultor, “pelo jeito, estão ignorando o fato para evitar o custo da separação do material, o qual seria mais barato se tivesse sido feita antes da demolição”.
Vale ressaltar que, de acordo com o Inca, entre as principais doenças relacionadas ao amianto, estão asbestose que é a deposição de fibras de asbesto [amianto] nos alvéolos pulmonares; câncer de pulmão; câncer de laringe, do trato digestivo e de ovário; mesotelioma – forma rara de tumor maligno. Além das doenças descritas, esclarece o Inca, o amianto pode causar espessamento na pleura e diafragma, derrames pleurais, placas pleurais e severos distúrbios respiratórios. (leia aqui o parecer do Inca sobre os riscos do amianto)
É absurdo o pouco caso com que as autoridades de Mato Grosso tratam a saúde da população. Ter conhecimento dos riscos torna o descaso um ato criminoso.
Voltarei ao assunto em breve, enquanto isso, leia o relato do consultor Johan Put:
"FIFA Greenfield vira brownfield em Cuiabá, Brasil
No Brasil, os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 já começaram. O primeiro estádio a ser completamente demolido está localizado em Cuiabá-MT, no centro-oeste do Brasil. A demolição foi feita com guindastes, martelos, tesouras e válvulas mecânicas.
No local há vários hectares de demolição de grande porte, e a Enviro Challenge verificou que a empresa de demolição não separou os diferentes materiais de demolição, tais como: concreto, solo, aço, madeira e… materiais com suspeitas de amianto.
Em todo o local, os diferentes escoamentos dos materiais demolidos foram misturados e, desta forma, o greenfield da FIFA se transformou em um brownfield.
Enquanto isso, um triturador já começou a triturar esses materiais. O escoamento contaminado não é classificado em uma linha de triagem. Na Europa, esta atividade é realizada por trabalhadores da construção altamente qualificados, devido aos riscos envolvidos. Equipamentos de proteção eficazes e novas tecnologias podem controlar a poeira gerada em torno da linha de trabalho.
A Enviro Challenge elaborou um programa abrangente para resolver o problema, mas tem receio de que o custo de classificação dos materiais continue a ser um obstáculo, apesar de a FIFA ter solicitado um certificado LEED para o projeto de construção.
Cabe ressaltar que a poeira proveniente do britador contém fibras de amianto e quartzo e, portanto, apresentam sérios riscos de saúde para a população em uma ampla área ao redor do estádio. Estes riscos ainda podem ser controlados com um custo limitado apesar de tudo. Do ponto de vista da saúde pública, a ação no local a curto prazo é uma obrigação.
Para evitar que situações semelhantes ocorram no futuro, um trabalho cientifico está sendo momentaneamente preparado pela Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília e a Enviro Challenge."
(Por Adriana Vandoni, Prosa & Política, 25/09/2010)