O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, anunciou nesta quarta-feira que o Japão doará US$ 2 bilhões nos próximos três anos aos países em desenvolvimento para proteger a biodiversidade, uma iniciativa saudada pelo Brasil, porta-voz destas nações.
"Vamos lançar uma iniciativa para apoiar os esforços dos países em desenvolvimento, para que elaborem suas estratégias nacionais e as apliquem", disse Kan no discurso de abertura da sessão ministerial da décima COP-10 (Conferência das Partes da Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica), que acontece na cidade japonesa de Nagoia.
O Brasil, que se tornou o porta-voz dos países emergentes, elogiou a oferta do Japão. "É uma boa notícia", declarou à AFP a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
"Para nós, no Brasil, é muito importante destacar que novos fundos, dinheiro adicional, são absolutamente importantes para a nova fase (das negociações)", acrescentou. A ministra afirmou na última terça-feira que as negociações internacionais sobre a biodiversidade em Nagoia devem resultar imperativamente em um acordo para conter a biopirataria.
Já a ONG Greenpeace, que faz parte da sociedade civil presente nas discussões, destacou que a oferta do Japão estimula as oportunidades de um acordo durante a COP-10. "É um grande início que o Japão apresente números concretos para proteger a vida na Terra", afirmou à AFP o diretor do Greenpeace Wakao Hanaoka.
NEGOCIAÇÕES
A questão da ajuda financeira aos países em desenvolvimento é um dos pontos chave da negociação que chegará ao fim na sexta-feira.
Os outros temas cruciais são a instituição de metas globais para 2020 (percentual de áreas protegidas na terra e no mar, por exemplo) e a aprovação de um acordo sobre as condições de acesso das indústrias do hemisfério norte aos recursos genéticos dos países do sul.
Os representantes de 193 países estão reunidos desde 18 de outubro para tentar concluir acordos sobre os três pontos.
Um amplo estudo sobre os vertebrados (mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes) apresentado nesta quarta-feira em Nagoia mostra que apesar de 20% das espécies estarem ameaçadas, os cientistas têm agora provas indiscutíveis dos efeitos positivos dos esforços de conservação.
Os cientistas identificaram 64 mamíferos, aves e anfíbios que tiveram o estado de conservação melhorado graças às medidas de proteção adotadas.
Mas apesar dos delegados presentes em Nagoia afirmarem ter consciência da situação, as negociações estão bloqueadas pelas habituais disputas entre países ricos e pobres, que já frustraram em grande parte as discussões na ONU sobre a luta contra a mudança climática.
Neste sentido, o anúncio do Japão acalmou os ânimos, mesmo sem a divulgação de detalhes sobre o destino do dinheiro e quanto consistirá em ajuda direta e quanto em empréstimos.
(Efe, Folha.com, 27/10/2010)