Desempenho de Marina Silva nas eleições, com 19,3% dos votos válidos, não se refletiu nas bancadas verde e feminina, mas pode ter impactado no grande crescimento da bancada evangélica.
O desempenho dos candidatos que ficaram em 3º lugar nas últimas eleições
2010 Marina Silva (PV): 19,3%
2006 Heloisa Helena (PSol): 6,9%
2002 Anthony Garotinho (PSB): 17,9%
1998 Ciro Gomes (PPS): 11%
1994 Enéas Carneiro (Prona): 7,4%
1989 Leonel Brizola (PDT): 15,4%
Fonte: TSE
Com uma campanha baseada no desenvolvimento sustentável e com um perfil religioso evangélico, a candidata Marina Silva obteve 19,3% dos votos válidos (19,6 milhões) no primeiro turno das eleições presidenciais. Foi a maior quantidade de votos já dada a um terceiro colocado em eleições para presidente da República desde a redemocratização (1989). Porém, na Câmara dos Deputados, bancadas que poderiam ser beneficiadas por esse bom resultado – os verdes, os evangélicos e as mulheres – apresentaram desempenho variado.
O apelo ambientalista não se refletiu na mesma proporção na bancada do Partido Verde, que passou de 13 para 15 deputados, chegando a 2,9% da composição da Casa. Seus rivais políticos, os ruralistas, se mantiveram do mesmo tamanho. As mulheres também não alcançaram o mesmo desempenho das candidatas à Presidência: Marina e Dilma juntas obtiveram 66,5 % dos votos válidos. A representação feminina na Câmara caiu de 45 para 44 deputadas, ou 8,6% do total de parlamentares.
Na opinião do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, isso se deu porque os votos para cargos majoritários e proporcionais são “desconectados”, por causa da natureza dos mandatos eletivos. “Enquanto o presidente trabalha em dimensão global, o deputado trabalha paroquialmente; essa diferença impede que as pessoas façam uma conexão entre os votos”, acredita.
Para o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a principal causa para a baixa representatividade feminina nos resultados desta eleição é o fato de que as deputadas ocuparam poucos cargos de destaque na Câmara até o momento.
Evangélicos
A exceção são os evangélicos, cuja bancada cresceu substancialmente em relação à legislatura anterior: de 43 para 63 deputados, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Para Barreto, os evangélicos tendem a se comportar de maneira diferente dos demais eleitores por serem mais fiéis às orientações de suas lideranças religiosas locais.
“A candidatura da Marina agregou valor às eleições e afetou positivamente os evangélicos, porque ela inspirou muitos candidatos quanto à postura e à tese apresentada ao eleitor”, disse o deputado João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica. “Além disso, o fato de ela ser bastante conhecida motivou o eleitor evangélico a acreditar mais no sucesso”, acrescentou.
Antes de Marina, o melhor resultado de um terceiro colocado em eleições presidenciais havia sido de Anthony Garotinho, em 2002, quando disputou o cargo pelo PSB, também com a bandeira evangélica. Naquela época, o candidato obteve 15.180.097 votos, o equivalente a 17,87% dos válidos.
Ambientalistas e ruralistas
O pequeno impacto da votação de Marina no crescimento da bancada do PV é explicada pelo presidente do partido e deputado federal eleito, José Luiz Penna (SP), pela cultura política brasileira de não privilegiar o voto na legenda. Apesar disso, Penna comemorou o desempenho do partido. “Não houve uma ligação direta [a votação de Marina Silva com o desempenho do PV] porque isso seria refletido no voto de legenda, mas Marina nos ajudou demais, deu um grande peso político às nossas campanhas”, definiu.
A bancada eleita neste ano, de 15 deputados, é quase 15% maior que a eleita em 2006 (13 deputados), mas naquela época o PV não teve candidato próprio à Presidência da República nem apoiou alguém no primeiro turno.
Por outro lado, o grupo político dos ruralistas, tradicional opositor dos ambientalistas, deverá permanecer semelhante à atual legislatura, com aproximadamente 220 deputados. Atualmente, a Frente Parlamentar do Agronegócio conta com 241 deputados, sendo que 144 foram reeleitos – índice de reeleição de 59,7%, superior ao geral dos deputados, que ficou em 55,7%. Não foram levados em conta aqueles que não se candidataram nem os que disputaram outros cargos.
Depois da posse dos novos deputados, a frente vai tentar atrair pelo menos 200 parlamentares que teriam relação com os interesses do grupo. “O nosso número sempre ficou entre 180 e 220 atuantes e vai continuar assim, porque muitos que não se reelegeram tentaram outros cargos”, declarou o coordenador político da frente, deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR). Em relação aos votos dados a Marina, o deputado do Paraná acha que eles foram distribuídos entre “ambos os lados”.
(Por Rodrigo Bittar, Agência Câmara, 28/10/2010)