Técnicos da Fepam percorreram ontem o Rio Gravataí para entender o que ocasionou a morte de milhares de peixes no último final de semana. Jundiás, birus, pintados e brancas foram vistos boiando no trecho de oito quilômetros entre a BR-116 e a BR-290 (free way). Conforme levantamento da Fepam, esta é a segunda maior ocorrência de mortes de peixes no rio dos últimos 15 anos. A pouca oxigenação da água é apontada pelo órgão como a principal causa da morte dos animais.
O presidente da Associação para Pesquisa de Tecnologias Ambientais (Apta), Clóvis Braga, cita que as espécies apareceram mortas logo após a chuva da última sexta-feira, 22. Ele estima que 50 mil peixes devem ter morrido. ‘‘No verão a água fica mais baixa e isso reduz a oxigenação. Mas desta vez os peixes não agonizaram, morreram direto. O que nos leva a crer que é contaminação", acredita Braga.
Na manhã de ontem, os poucos peixes mortos que ainda boiavam pelo Gravataí eram consumidos pelas garças. "E como há presença de biguá (outra espécie de ave) isso revela que tem peixe vivo na água, pois eles não comem o peixe morto. O que nos faz acreditar que a água tem oxigênio", conclui Braga.
Descartada contaminação por herbicida
O técnico da Fepam Vilson Trava Dutra descartou, após percorrer o rio, que as mortes tenham ocorrido por uma possível contaminação por herbicidas. "Depois da free way não tem peixes mortos, por isso descartamos as lavouras, que ficam próximas à nascente", comenta. Para Dutra, o maior problema continua sendo o lançamento direto do esgoto de toda a zona norte de Porto Alegre, do bairro Niterói e de quase toda Cachoeirinha e Gravataí. "Realmente a morte é decorrente da poluição orgânica. Toda essa poluição acumulada consumiu o oxigênio por um tempo. Hoje (ontem) não teve mais."
Apta sugere ações para recuperar rio
O presidente da Apta, Clóvis Braga, destaca que é possível recuperar o Gravataí no trecho entre Canoas e Porto Alegre. "Mas isto depende de muita vontade política", afirma. Três medidas na avaliação dele deveriam ser tomadas imediatamente para que em alguns anos o rio volte a ser saudável. A primeira seria saneamento básico. "O esgoto dos municípios que fazem parte da bacia do Gravataí deveria ser tratado. E a dragagem do rio para limpá-lo e maior fiscalização nas lavouras para evitar que agrotóxicos sejam jogados na água", completa ele as sugestões.
Canoas tem trecho com mais poluição
O Gravataí divide Canoas e Porto Alegre e é este o trecho mais castigado pela poluição, conforme a Fepam a Apta. O rio recebe boa parte do esgoto in natura dos municípios que corta. E o problema agrava-se com a perda de vazão da água devido à sua geografia, ampliando o acúmulo de esgoto e lixo neste ponto. "E isso nos preocupa devido à piracema", destaca o técnico da Fepam Vilson Dutra. Ele comenta que é justamente nesta época que os peixes sobem o rio até a nascente para procriar. Inevitavelmente vão passar pelo trecho mais poluído".
(Por Lílian Patrícia, Jornal VS, 28/10/2010)