Organizações não governamentais (ONGs) de proteção aos animais com atuação no Estado resolveram se unir contra a importação de girafas que seriam trazidas da África para o Zoológico de Sapucaia do Sul. Com o lema Lugar de Animal é em seu Hábitat Natural, o grupo conseguiu o adiamento da compra de três exemplares da espécie, que substituiriam Fifi e Doroteia, as duas girafas mortas em julho e setembro.
Mobilizados, os ativistas fazem circular um abaixo-assinado em Porto Alegre e no interior do Estado. Eles já coletaram assinaturas no Parque da Redenção. No domingo, circularão na Feira do Livro com a mesma finalidade. Até o dia 8 esperam reunir um número significativo de assinaturas para entregar a lista à Fundação Zoobotânica, responsável pelo Zoo.
Antes de receber oficialmente o documento, o presidente da fundação se manifestou em nota. Ernani Ruschel Filho disse que, diante da polêmica, ficará para o próximo governo decidir pela compra dos animais.
— O novo governo assumirá nos próximos meses, ocorrendo mudanças em todas as áreas governamentais, onde o Parque Zoológico está integrado. Por essa razão, a direção da Fundação Zoobotânica achou por bem aguardar, para que os novos dirigentes decidam quais medidas serão adotadas — destacou Ruschel.
Os ativistas não são apenas contra a importação de animais, mas contra os zoológicos em geral.
— Defendemos santuários ecológicos, fechados à visitação. O zoo não é um lugar agradável a esses animais. As crianças crescem pensando que leões devem viver enjaulados. Queremos evitar que tirem as girafas de seu hábitat natural — pontua o ativista Fernando Schell Pereira, 30 anos.
O diretor do zoo de Sapucaia, Roque Tomazeli, lamentou. Segundo ele, o processo de importação acabou prejudicado, inibido pelo movimento.
— Um zoo com condições apropriadas cumpre um papel importante para a educação ambiental da sociedade. É a oportunidade que as crianças vejam os bichos de perto, que não seja em figuras ilustradas ou empalhados. A maior prova é que 500 mil pessoas visitam o zoo por ano — conclui Tomazeli.
Entenda o caso
TRISTEZA NO ZOOLOGICO
- As últimas duas girafas vivas no Estado morreram este ano, entre o final de julho e meados de setembro. Fifi, 25 anos, desabou primeiro. Vítima de um possível resfriado agravado pela idade avançada, a girafa morreu no Zoo de Sapucaia do Sul.
- Restou Doroteia que, abatida pela solidão e também resfriada, não conseguiu sobreviver à perda da companheira e acabou morrendo, aos 15 anos. Ela era a última da espécie no zoo gaúcho. Quando morreu, em setembro, estava com 15 anos. Os pais da girafa tinham sido importados da África, em 1974.
- Diante da perda, o zoo já iniciava os trâmites burocráticos para a compra de um macho e duas fêmeas, à disposição na África do Sul. Os animais, mais o transporte, custariam cerca de R$ 150 mil. A verba, segundo o diretor, Roque Tomazeli, já estava garantida. O parque não queria ficar sem uma de suas principais estrelas.
A MOBILIZAÇÃO
- O movimento das ONGs neste domingo será na Feira do Livro de Porto Alegre, às 14h, na entrada do Santander Cultural.
- Saiba mais: www.lugardeanimal.com
O QUE DIZ O IBAMA
- Para que animais como girafas sejam importados é necessária a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, de Brasília. O processo é analisado pela Diretoria de Biodiversidade e Florestas. Existe um manual de importação e exportação, de 2009, que lista algumas espécies que estão isentas de licença, mas não é o caso das girafas.
(Por Leticia Barbieri, Zero Hora, 28/10/2010)