Os cenários projetados para o Nordeste com o aumento da temperatura global normalmente apontam a elevação do nível do mar, no litoral, e a desertificação, no Semiárido. A Zona da Mata, localizada entre esses dois extremos, também vai sofrer com o aquecimento global. “A região vai ficar de 15% a 20% mais seca”, disse ontem o diretor nacional da organização não governamental Fase, Evanildo Barbosa.
O urbanista se baseia em dados do IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, entidade internacional que reúne pesquisadores de todo o mundo, para um aumento da temperatura global entre dois e quatro graus.
Diretor do Programa Urbano da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), Evanildo Barbosa foi um dos palestrantes do seminário Desenvolvimento e Mudanças Climáticas na Zona da Mata de Pernambuco, realizado ontem no auditório da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Recife.
Para o pesquisador, os efeitos atuais das mudanças climáticas globais alertados pelo IPCC já se confirmam na Zona da Mata de Pernambuco. “A enchente de junho em Palmares e municípios vizinhos é um exemplo de que o aquecimento global resulta em chuvas fortes e concentradas em curto período de tempo”, justifica.
Esses efeitos, na opinião do urbanista, foram intensificados pela ocupação desordenada do solo e pela ocupação histórica de áreas de preservação permanente (APPs) pela cana-de-açúcar. “Margens de rios, nascentes e encostas cobertas por canaviais e cidades construídas na beira dos mananciais, claro, contribuem para que os efeitos da mudanças climática sejam mais severos.
Na opinião de Aldo Santos, coordenador de Articulação Política do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, outra entidade que participou do seminário, o programa nacional de expansão da cana pode agravar ainda mais o quadro de mudanças climáticas na Zona da Mata. “O governo quer expandir em 205 mil hectares os canaviais”, adverte.
(Jornal do Comércio, 27/10/2010)